Os videojogos hoje em dia



Os jogos não são uma coisa deste "novo mundo". Existem desde há milhares de anos. Jogos de cartas, de damas, berlindes, e até desportos (sim, creio que futebol, por exemplo, é um jogo). Sinceramente, falta-me paciência para ir pesquisar qual é o jogo mais antigo que a humanidade conhece e meter-vos aqui para complementar esta opinião. Normalmente costumo-me sempre informar antes de escrever algo, mas hoje decidi fazer algo espontâneo, que tenha inteiramente por base o que sai da minha cabeça. Mas continuando, acredito que o primeiro jogo tenha sido o xadrez, mas talvez esteja redondamente enganado. Sinceramente, não interessa muito. Vim aqui para falar mais sobre os videojogos.
Há uns dias atrás (como quem diz meses) vi uma reportagem sobre a história dos jogos (de computador e de consolas). Não consegui ver a reportagem até ao fim, que até estava dividida por partes, mas consegui reter que o primeiro jogo virtual tinha sido um tipo qualquer que criou uma espécie de ténis (hoje em dia mais conhecido por Pong), a que deu o nome de Tennis for two. Naquela altura deve ter sido algo de extraordinário, poder divertir-se com uma máquina. Mas isso foi o primeiro passo, a pedra de uma gigante bola de neve na indústria a que hoje chamamos de videojogos. A partir dessa pequenininha pedra, nasceu grandes nomes como Nintendo, e mais tarde a PlayStation e a Xbox. Desde o Tennis for two, maravilhas clássicas foram criadas como o tão conhecido Pac-Man ou o Space Invaders. Todos estes jogos alimentaram ainda mais o desejo da população pegar em algo virtual. E assim nasceram as consolas domésticas, as portáteis, os jogos de computador, tudo até chegarmos à actualidade, onde estamos a começar a entrar nos jogos a três dimensões. Não que já não tenha sido tentado antes, como o Virtual Boy, mas os resultados nunca conseguiram conquistar verdadeiramente a audiência. O mesmo acontece para com os jogos com câmera, como o Eye Toy, e os comandos com sensores de movimentos. Ao longo da história o entretenimento virtual tentou sempre sair das limitações de um controlador para tentar dar algo mais emocionante ao jogador, procurando oferecer a imersão completa. Faz-nos lembrar aqueles capacetes que esporadicamente vemos em filmes de ficção científica em que o sujeito entra mesmo no jogo ou o que seja. Isto pode ter algumas implicações éticas, afinal, quem gosta de usar uma touca cheia de ventosas junto à cabeça para nos divertirmos?
Mas, vendo por outro lado, não é isso mesmo que procuramos sempre que pegamos num jogo, a imersão? Quando pegamos num Call of Duty o nosso objectivo não é demonstrar a nós mesmo que somos uns veteranos da guerra, já que sabemos que nunca o vamos ser na vida real? Quando pegamos num FIFA ou num PES não procuramos uma forma de criar a nossa própria história como estrelas de futebol, visto que não sabemos nem fazer um cruzamento na vida real?
Então os videojogos não serão uma espécie de oportunidade de vivermos uma segunda vida, de criarmos a nossa própria história onde tudo é aquilo que desejávamos vir a ser na vida real? Será então como um livro, só que somos os protagonistas que os escritores criaram?

Se assim for, é terrivelmente assustador! Significa que somos uns falhados na vida real que procuramos à noite ser alguém em frente à televisão (ou monitor) mandando tiros na cabeça a pessoas do outro lado do mundo e chamando-lhes noobs.
Realmente, muitos cientistas tentam "proteger" o videojogo das crianças e adolescentes com medo que estas se entranhem demasiado nesta segunda vida, passando a considerar tudo como um jogo. Casos dests já aocnteceram como o da escola alemã, em que um aluno matou a tiro vários estudantes e professores para depois se suicidar, salvo erro. Ao que parece, o jovem era fã de Counter Strike.
No entanto, não se pode proibir o uso de videojogos por causa destes casos. Fumar mata mais que jogar, e no entanto cerca de um terço da população portuguesa é fumadora (se não mais). E as bebidas com álcool? Quantas pessoas não dão entrada por dia num hospital por coma alcóolico?
O ser humano, por natureza, é viciado em algo. O povo tem sempre algum vício, o "ópio do povo". No entanto, não é por estar expresso nos nossos genes uma irresistível vontade de droga que nos vamos drogar ou roubar ou fumar ou seja lá que vício for. A nossa vida trata-se, em parte, de combater essas nossas mesmas pulsões. E é por isso que também não devemos desprezar os tais cientistas que nos alertam para os videojogos. Há um meio para tudo: não os devemos desprezar, mas também não devemos fazer das palavras deles um ultimato. Jogar, em quantidades razoáveis, pode até ser proveitoso.

Um dos grandes problemas que os jogos trazem é o de nos fazer abstermo-nos da vida real, ficando em casa na sala ou no quarto. Aliás, muita gente hoje em dia tem aquele estereótipo de que o jogador é aquela pessoa de óculos com a pele toda branca de não sair à rua e a cheirar mal, em frente a um ecrã.
Para combater os problemas de não pertencermos a uma vida social na vida real, foram criadas redes sociais virtuais. Hoje em dia, qualquer pessoa com uma consola e acesso à Internet pode ter uma lista com vários amigos, um avatar, uma caixa de correio cheia de insultos, e milhões de pessoas para competir online. A vida real foi recriada virtualmente. Para quê andar à porrada com o tipo que me chateou hoje quando posso pô-lo knockout no Fight Night? Mais vale não sair de casa assim, tudo o que faço na vida real posso fazê-lo sem sair de casa, inclusive ter uma quinta...
Sim, temos de admitir, é um ponto de vista sólido. No entanto, por enquanto, os jogos ainda não conseguem oferecer algo muito importante, felizmente: o tacto. Sim, o tacto. Pode parecer estúpido, mas o tacto é o factor mais imporante que ainda faz com que os jogadores não joguem tanto como isso. Se pensarmos bem, quem é que não gostaria de sentir verdadeiramente uma arma nas mãos, e quando morrermos não sofrermos nada?
À medida que o tempo passa procuramos mais a imersão, não só nos videojogos como também em toda a tecnologia: o 3D foi melhorado e passou dos cinemas para as nossas próprias casas, os gadgets também começarão a vir em 3D e os jogos já permitem, para além da terceira dimensão, controlar um jogo com o nosso corpo, como é o caso do Kinect da Microsoft.
Tudo isto acontece devido ao facto de termos cada vez mais medo de enfrentarmos a vida real, por isso criamos tecnologias que nos permitem simular uma vida perfeita ao gosto de cada um, na qual nada nos acontece. Um bom exemplo disto é o filme Surrogates (Os Substitutos) que retrata muito bem um destino para o qual eu tenho medo que estejamos a caminhar.
Mas, como estava a dizer, se ainda os videojogos não são uma indústria gigante é devido ao facto de não oferecer sensações que só o tacto pode oferecer, como saltar de pára-quedas, beijar algúem e surfar numa onda. Os jogos bem que tentam ofercer estas sensações, mas não conseguem. Agora, quando o conseguirem, deixaremos de ter razões para saltar de um avião pois o pára-quedas pode não abrir, de beijar algúem pois essa pessoa pode recusar, ou surfar numa onda pois podemos morrer afogados. Quando o conseguirem, o caso será grave.


Posso concluir que os videojogos, por enquanto, o máximo de dano que pode fazer a um indivíduo (jovem, principalmente) é ser a causa de más notas. Nesta altura ainda só há poucas pessoas a matar por causa de um jogo, sobretudo quando comparamos com o número de mortes por tabaco ou sexo.
Ainda estamos naquela fase em que os nossos pais nos dão na cabeça quando excedemos o limite de horas em frente à televisão. No futuro? Ainda não o consegui prever, mas só pode sair um de dois casos: ou os videojogos deixarão definitivamente o mercado e deixaremos de jogar, ou subirão a uma velocidade alucinante e em poucos anos a vida social (real) estará com níveis muito baixos. Pessoalmente não gosto de nenhum dos casos. E se me perguntarem porque os jogos não podem se manter ao ritmo em que estão, a resposta é muito simples: o entretenimento jogável é muito potente e, acima de tudo, ambicioso. Não vai desistir até ter conseguido captar o mundo inteiro.

Bem, estou agora no final daquilo a que chamamos "crónica". Sim, é a minha primeira. Não, não será a minha última.
Despeço-me assim dos leitores que se deram ao trabalho de ler as linhas acima e, provavelmente, reflectir um bocado sobre o futuro. Despeço-me também daqueles que leram na diagonal ou que simplesmente só olharam para o inicío e a conclusão.
Mas, acima de tudo, despeço-me daqueles que nunca chegarão a ler este texto.



3 comentários:

António Ferreira disse...

Gostei de ler, muito bom. ;)
Continua.

Cumprimentos.

André Lopes disse...

Obrigado ;)

Anónimo disse...

Gostei disto!
Uma "crónica brilhante" que completa uma área de reflexão que faltava no BT.
Quanto ao tema, penso que enquanto houver, nos jovens, esta consciência dos perigos como é revelado aqui, não teremos problemas.

Longa vida ao BT!

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