Crónica 1: Apenas Peluches Nus





Raras são as ocasiões em que temos de salvar o príncipe, e não a princesa, e quando isto acontece, a salvadora tem sido tratada de uma maneira hipersexualizada que em nada abona a nosso favor enquanto meio. Mais raras ainda são as ocasiões em que os videojogos têm ousado representar as relações humanas de uma maneira mais séria. Amizade é permitida, amor também, sexo não. A pergunta que se tem de fazer é porque é que ainda são poucos os casos em que os videojogos retratam de uma maneira séria a sexualidade e o sexo.



Primeiro de tudo, temos de pensar que a ideia geral da sociedade é que os vídeo-jogos são ainda algo exclusivamente para crianças. Olhando para trás, é fácil entender porque é que isto acontece. A Nintendo, após o falhanço da Atari, e de alguma controvérsia por causa de jogos como Cluster’s Revenge tentou fazer com que os videojogos tivessem outra imagem na sociedade. Apesar de isto ter sido vital para a revitalização de uma indústria moribunda, fez com que o grande público olhasse para uma consola como um brinquedo.



Estudos recentes demonstram que, nos Estados Unidos, a idade média do jogador é de 37 anos, e que já é jogador há 12 anos. Apesar de em Portugal os números serem certamente diferentes, isto dá-nos uma ideia de quão antiquada é a ideia de que os videojogos são algo para crianças, se é que alguma vez foi actual. No entanto, ainda temos de levar em cima com controvérsias como a que aconteceu no lançamento de Mass Effect que, segundo a (não lá muito) conceituada estação norte-americana de notícias Fox News demonstrava nudez e sexo explícito.


Como jogadores devemos responder à ignorância com inteligência. O que estamos actualmente a passar, a desaprovação da sociedade e desconhecimento são algo que o cinema e a banda-desenhada passaram antes de serem considerados arte. Estamos prestes a dar um passo de gigante como indústria, de algo que se cingia a algumas caves espalhadas pelo mundo, a uma indústira mainstream que está presente em todo o lado, e, talvez o mais importante, o reconhecimento da sociedade está a chegar. Estará na altura de alugar o smoking?



Devemos então elucidar as pessoas sobre o que afinal são os videojogos. Não digo que devamos andar na rua a gritar “vida longa ao Link!”, ou obrigar os nossos avós a saber que o bolo é uma mentira. No entanto, sempre que possível, temos a obrigação de explicar que jogos como Duke Nukem não são a regra. O que nos leva a outro ponto. Como jogadores, está na altura de vermos as mulheres (e na verdade, os homens também, visto que não somos todos cretinos, apesar do que algumas de vocês possam pensar) como deve ser. Apesar de hoje em dia não se verificar tanto como uma ou duas gerações atrás, ainda vemos personagens femininas hipersexualizadas e personagens masculinas ultrajantes. Se começarmos a pedir (ou seja, a comprar) jogos que realmente consigam caracterizar a sexualidade humana correctamente, eles chegarão em maiores quantidades do que actualmente.



Está então na altura de vos aconselhar alguns jogos que representam bastante bem o sexo e a sexualidade, e que por isso, merecem uma “medalha de ouro” por tentarem elevar a nossa indústria a algo maior. Digo desde já que ainda não joguei alguns destes jogos, no entanto fiz a minha pesquisa. Primeiro de tudo, um jogo que ainda não saiu na Europa, mas que parece promissor. Catherine é a história de Vincent Brooks, um Zé-ninguém que se vê subitamente num grande dilema, o facto de estar a trair a sua namorada Katherine. Persona 4, especialmente uma personagem, Kanji Tatsumi, que tem uma luta interior por causa da sua sexualidade, ou no seu caso, a sua homossexualidade. Note-se, ambos são RPG’s da Atlus. Outros jogos como o próprio Mass Effect e Dragon Age também merecem atenção.



Para finalizar, não quero me queixar do quão triste é verificar o tamanho da ignorância por grande parte das pessoas sobre a representação do sexo nos videojogos. Como disse o criador de Bioshock, “o sexo nos videojogos não passa de peluches sem as suas roupas”. Quero antes dar uma palavra de esperança. De que dentro de 5-6 anos finalmente poderemos ver retratada, com fidelidade, a sexualidade nos videojogos. Afinal, é parte do que o ser-humano é, e não é papel da arte retratar o Homem?


Envia suguestões/críticas para o e-mail pedrolourenco@blog-tecnologia.com. Para saberes o que ando a fazer, segue-me no twitter em twitter.com/juicy690!



9 comentários:

Anónimo disse...

Master MKB aka Your Father:

Achei uma crónica interessante e bem construida. Só duas coisas más... estória na verdade escreve-se história e foi uma crónica pequena e podias ter dado mais exemplos.
Ly son.

RickRedfield disse...

Em primeiro lugar gostei muito do artigo e não podia estar mais de acordo com a opinião defendida.
Embora os videojogos sejam já uma das maiores indústrias do mundo, é inacreditável o nível de hipocrisia relativo a estes temas. Sempre que um jogo aborda o sexo, ou a simples sexualidade, como tema monta-se de imediato um circo mediático em torno de dito jogo, o que não acontece com outros meios de entretenimento como o cinema, por exemplo. Apesar de nesses jogos ser obrigatório constar a idade mínima do público ao qual se dirige há sempre grupos de ignorantes que tentam boicotar o seu lançamento... impedindo, consequentemente, que a industria evolua no sentido de uma maior complexidade e maturidade por medo de ferir susceptibilidades de conservadores poderosos.
O sexo faz parte do ser humano e como tal a sua representação não deve ser censurada devido a falsos moralismos ou a ideias absolutamente antiquadas de que apenas as crianças jogam videojogos.
Só como curiosidade... A forma como os temas sexo/sexualidade/sensualidade são abordadas em jogos como o Indigo Prophecy ou o Heavy Rain parece-me um passo em frente porque não surgem de forma gratuita... não são uma forma fácil de cativar adolescentes a comprar o jogo só por ter nudez. Essas cenas contribuem, como num bom filme, para o desenvolvimento da narrativa e para nos mergulhar na atmosfera que o jogo nos quer transmitir... para nos relacionarmos com as personagens e os seus sentimentos a um nível muito mais profundo.
Cumprimentos

Sandu disse...

É 100% verdade tudo que está aqui.
As pessoas são muito ignorantes e as vezes levam o sexo nos video jogos como uma ofensa para os jogadores...
Eu acho estúpido que algumas pessoas parece que querem esconder o tema da sexualidade.
De exemplo jogo como GTA que mostram aberto o sexo e temas sexuais como Strip Clubes e outras coisas.As pessoas acham estes jogos inadequados e maus para as crianças. Mas porque ??? Eu tenho a certeza absoluta que todas as crianças que tem PC já foram ver pornografia e sabem ja do sexo mesmo antes de os pais pensarem em os informar.
Então se os videojogos são coisas para crianças, porque não demonstram os tema sexual nos jogos ?? Qual é o problema ?? Digo por experiência própria, que quando estava no 6º ano foi a primeira vez que a professora falou em temas sexuais... 99% das crianças já sabiam e não tinham vergonha de falar nisso... Então se os tais sites pornográficos que mostram PESSOAS REIS e não BONECOS não são censurados, então porque uns BONECOS são censurados ??? Ou mais cedo ou mais tarde TODOS vamos saber o que é o sexo... e acho que não tem mal nenhuma descobrir isso pelos videojogos. Mas pronto um dia deste o mundo acorda para a vida...

Pedro Lourenço disse...

Tenho de discordar contigo Sandu. Jogos para crianças são jogos para crianças, jogos para adolescentes-adultos são jogos para adolescentes adultos. Um GTA não é um jogo que eu daria à minha irmã de 10 anos, assim como maior parte dos jogos com rating de +18.

É preciso separar as águas. O problema da sociedade é que videojogos é apenas uma coisa para criança. Apesar de haver jogos específicos para um público mais novo (aliás, como há literatura, cinema, pintura, escultura, música, etc), muitos são jogos para pessoas com um bocado mais de idade.

Uma coisa tenho de dizer, com 16 anos, acho ridículo que, pelo menos supostamente, não possa jogar jogos como Bioshock e Assassin's Creed. A partir dos 12-13 anos, qualquer ser humano minímamente capaz consegue distinguir a ficção da realidade.

Muito obrigado pelos comentários de todos vós. E quanto ao menino MKB, é algo que me causa alguma confusão (a palavra estória ou história). Nunca sei bem como escrever.

Cami disse...

wcamicase:

Concordo plenamente, para alguma coisa estão nas caixas dos jogos a idade e as coisas tipo violência e afins, se não querem as crianças a jogarem esses jogos os pais é que têm de tomar a responsabilidade, e por causa disso os videojogos não parecem evoluir nesse sentido
No Japão por exemplo já não se vê isso, visto que lá existem visual novels só de hentai e cá se não fosse a internet nem sabia o que era uma visual novel

Sandu disse...

@Pedro Lourenço,pois essa parte do GTA exagerei um pouco pois o GTA é muito violento. Mas de resto no tema sexual acho um pouco ignorantes e estúpido as pessoas censurarem jogo que mostram um pouco de sexo,pois como já disse e volto a dizer,não há criança que tenha PC e nunca viu pornografia.

Essa parte da idade ou classificação PEGI,tem a sua parte verdadeira. Vi reportagens a mostrarem como crianças ficam demasiado violentas e viciadas em jogos como CS, CoD...

" A partir dos 12-13 anos, qualquer ser humano minímamente capaz consegue distinguir a ficção da realidade" <--> É verdade mas há crianças que levam os jogos demasiado a serio. De exemplo eu quando tinha 13 anos jogava GTA San Andreas na PS2 e agora NÃO tou violento ou malcriado e não ando a bater em todos... Pois há crianças e crianças, umas percebem que os jogos são JOGOS e outros levam os JOGOS como realidade.

Cumprimentos, Sandu

Master MKB disse...

Estive para aqui a ler os comentários e quero dizer algo. Os videojogos são arte, tal como cinema, musica e etc. No cinema há filmes que são considerados para crianças, também há filmes para adultos. Então porque é que com os videojogos é diferente e um jogo tem de ser censurado porque crianças vão jogar? Sexo faz parte da vida, acho algo menos mau de se mostrar do que cabeças a serem cortadas e etc, porque no fundo durante a vida toda, as crianças que passarão (provavelmente) por adolescentes, adultos e cotas (xd) irão ter mais probabilidades de ver cenas sexuais que (tal como já disse) é a coisa mais natural de sempre, do que verem cabeças a voar. É isto que não entendo, violência gratuita? ''Que se lixe.'' Mamas num jogo? ''O que?? nao jogues isso! Vou levar o jogo a tribunal por veres algo no que (supostamente) mamaste quando eras bebé.''

Quanto ao que o Sandu disse...
Eu acho que jogos violentos só nos deixam mais pacíficos. É uma boa maneira de libertar a raiva e já chega de os jogos serem o bode expiatório para os problemas da sociedade. Se alguém mata alguém e é descoberta um jogo violento em casa do assassino (GTA San Andreas, as always) então a culpa é do jogo! A violência é mais explicita em filmes, porque não meter a culpa nos filmes? Na, nos jogos é mais facil.
Acho que é tudo :)

Pedro Lourenço disse...

Eu acredito que, para pessoas desequilibradas mentalmente talvez a interactividade dos videojogos os faça "viverem no jogo", e os faça ter atitudes violentas, mas isso não é própriamente culpa de quem faz o jogo.

Dark Soul disse...

A culpa da "falta de sexo" nos videojogos é das próprias produtoras. Se existem produtoras como a Rockstar que não tiveram problemas em representar o crime e a violência em graus exagerados em séries como Grand Theft Auto e Manhunt, penso que parte das produtoras a vontade de incluir o sexo explícito nas suas obras (coisa que a Rockstar já fez com San Andreas, mas não resultou lá muito bem).

Se de facto videojogos são arte, penso que quem produz esta arte não se deveria limitar àquilo que é socialmente correcto. Arte é obra do artista, seja o tema que for. A música e o cinema têm a liberdade de abordar os temas que os produtores querem, e os videojogos não deveriam ser diferentes.

A controvérsia começa pelas próprias produtoras que a antecipam na hora de criar videojogos. Com medo do escândalo e da má fama, limitam esta forma de arte. E acho que os jogadores deveriam de reflectir nisto antes de culparem pais, governos ou sociedade em geral.

Sobre o artigo, está bom, mas esperava algo maior e mais detalhado (como exemplos de jogos que abordam o sexo de forma mais explícita, ou polémicas sobre o tema).

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