Luís Torrão é um aluno de Engenharia de Desenvolvimento de Jogos Digitais do IPCA, que, tal como nós, é um amante de videojogos.
Acreditamos seriamente que Portugal tem possibilidade de vingar na indústria dos videojogos, e, como tal, decidimos entrevistar Luís, para que ele nos dê a conhecer um pouco mais sobre como é ser um game designer.
Agradecemos sinceramente ao Luís por nos ter dado a hipótese de realizar esta entrevista e por ter sido atencioso durante todo o processo de realização da mesma.
Blog da Tecnologia: Olá Luís. Sabemos que gostas de videojogos, mas de onde vem esta paixão que te levou a encarar esta área de um ponto de vista profissional? De onde nasceu o teu amor pelos videojogos?
Luís Torrão: Guardo excelentes recordações de infância em que, muito jovem, ia para a casa de um amigo que tinha uma consola Sega, onde passávamos horas a jogar Sonic. Por outro lado, em casa, o Apple Macintosh do meu pai permitia entreter-me com preciosidades como o Beyond Dark Castle, Tetris, Crystal Quest, Lode Runner, SimCity, Microsoft Flight Simulator, Risk, Civilization, o delicioso Scarab of Ra, etc. Mais tarde delirei na minha Saturn com Wipeout e, por intermédio também de um amigo comecei a jogar alguns clássicos insubstituíveis, tais como Gabriel Knight, Grim Fandango e a saga Syberia. Este último, um trabalho notável de Benoit Sokal, fez-me compreender que o jogo de autor pode ser uma verdadeira obra de arte, e desejar algum dia poder criar jogos a um nível tão elevado.
BT: A tua família costuma-te dar o apoio na tua vida que precisas? Ou ela encara os jogos como uma decisão errada e sem cabeça?
LT: Eu desisti de estudos de Medicina para cursar Engenharia de Jogos Digitais no IPCA. Sei que geralmente é ao contrário, mas os meus pais foram quem mais me instigou a repensar as coisas a meio do caminho, quando eu próprio era quem mais receava a mudança, pois perceberam que as ciências da saúde não me satisfaziam plenamente.
BT: Nunca pensaste, por um momento fazer outra coisa na vida? Não tens outros hobbies que gostarias de desenvolver, outras profissões que te cativam?
LT: Sempre fui multifacetado nas minhas actividades, com paixão pelas ciências, pelas artes, pela filosofia e outras áreas do saber. Fiquei extasiado ao descobrir que quem desenvolve jogos pode trabalhar com tudo isso e muito mais ao mesmo tempo!
BT: Uma das coisas que os jogadores se deparam com mais dificuldade é a gestão do tempo. Consegues gerir bem o tempo que jogas com o que dedicas ao trabalho?
LT: Actualmente não jogo muito. A maior parte do tempo que passo a jogar está relacionada com o debugging dos meus próprios jogos. Tenho uma colecção crescente de títulos numa estante para os quais espero vir a ter algum tempo, nem que seja na reforma!
BT: Acreditas, pelo menos em parte, naquela superstição das pessoas que os jogadores não têm vida própria e que passam os dias inteiros a jogar?
LT: Nem por isso. Vejo o jogo como um produto cultural que pode perfeitamente colocar-se a par do cinema, da literatura e de outros. Poderíamos falar dos cinéfilos cadavericamente pálidos por quase não saírem de salas escuras? Dos literatos compulsivos que sofrem ataques de pânico se saírem das bibliotecas? Dos apreciadores de BD que vivem em mundos de fantasia... Estereótipos, estereótipos, estereótipos...
BT: Portugal é um país em que a indústria de videojogos está pouco desenvolvida. O jogo Ugo Volt, por exemplo, foi cancelado. No entanto outros projectos tiveram sucesso, como o jogo Under Siege, para a PlayStation Network. Como achas que está a situação em Portugal, neste momento, no desenvolvimento de videojogos?
LT: O surgimento de títulos internacionais da Seed, com Under Siege, ou por exemplo da Biodroid com Miffy’s World e Replika e também a Miniclip.com mostram que no gigantesco mercado mundial dos videojogos também há lugar para os lusos “navegantes”. Espero que nesta aventura possamos cada vez mais “dar novos mundos (digitais) ao mundo”.
BT: Os consumidores acham os jogos excessivamente caros. Concordas?
LT: É um problema comum à maioria dos produtos culturais digitais. Elevados custos de produção, distribuição e, por vezes, um ânimo desenfreado de lucro podem sobreinflacionar algo que, tendo em conta a ampla distribuição/concorrência, se esperava que fosse mais acessível.
BT: Para acabar Luís, que conselhos dás aqueles que querem continuar com a sua paixão e seguir profissionalmente a área dos videjogos, quer seja a desenvolvê-los, quer seja como jornalismo?
LT: Só posso dar uma palavra de ânimo e deixar o convite para que possamos algum dia colaborar neste trilho que decidimos seguir!
Luís Torrão já chegou mesmo a fazer o seu próprio jogo! Chama-se Poxel e é, basicamente, um puzzle 3D bastante inovador. Podem encontrá-lo à venda no Android Market.
Par além disso, é investigador colaborador do Digital Games Research Center na área dos Serious Games, participou na especificação do jogo Energy For Life para a Oikos, criou o jogo Patrulha SEPNA! para a Guarda Nacional Republicana e ainda criou o jogo "indie" Chaimite que deverá ser disponibilizado brevemente para PC, Xbox e Windows Phone 7.
Nós concordamos na íntegra com as palavras de Luís: devemos fazer aquilo que gostamos, mesmo que isso implique um vencimento menor. Se gostarem mesmo de videojogos, não tenham medo em apostar nessa área como vossa futura profissão, o importante é gostar daquilo que fazem.
Mais uma vez, agradecemos a Luís por nos ter concedido esta entrevista e desejamos-lhe um futuro brilhante e cheio de sucesso.
Cumprimentos,
Lopes.
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