[Análise] Under Siege



ANÁLISES






















Under Siege é o primeiro jogo criado por uma produtora portuguesa para a PlayStation 3. Depois de dois anos a ser criado, e um imprevisto mês de espera devido ao ataque à PSN, este jogo de estratégia em tempo real finalmente é lançado. Vejamos o que achámos dele.


Veredicto

Quase todos os dias, se não mesmo todos, um videojogo é lançado algures, com mais ou menos expectativa. A indústria dos videojogos está a aproximar-se gradualmente (embora ainda falte um bocado) da indústria cinematográfica: as experiência audiovisuais são aos poucos complementadas por versões jogáveis e cada vez mais jogos dão entrada nos principais noticiários. Perante esta crescente evolução e competitividade pelo sucesso, é muito difícil criar uma empresa do nada e levá-la ao topo. Praticamente todos os grandes nomes de produtoras têm um grande historial, passando por cima e pisando aquelas que apenas nasceram agora e nem tiveram a oportunidade de mostrarem o que valem.
A Seed Studios é uma dessas produtoras. Fundada na cidade do porto em 2006, criou outros jogos antes de Under Siege, tais como Toy Shop, Sudoku for Kids e Aquatic Tales, todos para a Nintendo DS. Infelizmente estas produções não tiveram o sucesso que a companhia desejava, recebendo classificações entre o mau e o medíocre.
Under Siege é sem dúvida o passo "grande" da Seed Studios, a oportunidade de um pequeno peixe saltar de um mar rodeado de tubarões e brilhar em todo o seu esplendor. Com este jogo, a SS pretende definitivamente deixar a sua marca no mundo dos videojogos. Vamos ver se conseguiram.

Mal iniciamos o jogo deparamo-nos com uma apresentação que, por sinal, está bem conseguida, com uma banda sonora equiparável com muitas de jogos de referência. De seguida temos um menu de onde podemos escolher iniciar uma campanha nova (ou continuar a existente), entrarmos no multiplayer, configurar opções e ainda ver alguns extras, nomeadamente os créditos e um pequeno glossário com informação dos monstros que vamos descobrindo ao longo do jogo. Começemos pela campanha.
É de louvar o excelente tutorial que precede as batalhas verdadeiras (sim, acreditem, estes inimigos não são nada comparado com os do resto do jogo). Demonstra-nos de maneira simplista mas eficaz como utilizar os controlos do jogo. E devo mencionar que, sendo o género real-time strategy um tipo de jogo que foi criado para ser jogado no PC, Under Siege utiliza de forma exemplar os controlos de um DualShock 3. É verdade que por vezes nos atrapalhamos a seleccionar o que queremos, mas isso deve-se mais às inúmeras hipóteses que temos do que aos controlos do jogo em si. E a Seed Studios esforça-se mesmo por nos deixar à vontade com os botões, sendo até possível configurar um atalho para cada tipo de tropas em cada um dos quatro botões direccionais. Muito útil.

A jogabilidade de Under Siege é batante intuitiva
A câmera também raramente atrapalha, visto sermos nós a fazermos os zooms e afastamentos e a direcção para que queremos ver. Também os quatro botões (triângulo, quadrado, etc.) estão atribuídos de modo a facilitar o processo de utilização dos poderes especiais de cada tipo de tropas.
Sem dúvida, posso dizer que os controlos em Under Siege foram adaptados ao comando de forma exemplar. Bem demais até diria, visto haver mais do que um modo de chegarmos à mesma opção pretendida.

Se há coisa que me surpreendeu logo à primeira vista foram os gráficos. Para um jogo descarregável, devo dizer que Under Siege está ao nível visual de bastante jogos que vêem em formato físico. A vegetação está bastante boa, assim como a água, o solo, e a maior parte dos restantes adornos. Apesar de as texturas não estarem bem definidas, a iluminação cumpre o seu papel. Posso dizer que irão se deparar com uns gráficos polidos, limpos e consistentes.
As cutscenes resumem-se a diálogos por texto, mas as imagens artísticas que vão aparecendo por cima estão bastante boas e, portanto, compensam. Aliás, Under Siege é um jogo com bastante imaginação por detrás, visto existir uma boa diversidade de inimigos (e de ataques possíveis) aliado a uma direcção artística que complementa toda a restante parte visual do jogo notável.
Claro que não podemos compará-lo a um Crysis 2, por exemplo, mas se estão com receio que Under Siege vos desiluda a nível visual, acreditem, não o fará.

A direcção artística está formidável
Sim, os controlos são bastante intuitivos, mas a verdade é que há um outro peso a contrabalançar a balança: a dificuldade. Para terem uma noção mais ou menos exata do jogo, subam um nível de dificuldade a cada modo. Sendo assim, Easy passaria a Normal, Normal a Hard, e Hard...
É que Under Siege é um jogo (mesmo) difícil. Não basta pegar nas unidades todas e mandar atacar aquele conjunto de inimigos. Não, é preciso pensar primeiro, definir uma estratégia. Primeiro há que mandar um grandalhão com um canhão varrer a vaga mais próxima de inimigos, depois dificultar o avanço dos inimigos com as arqueiras e então depois mandar avançar as unidades de combate corpo-a-corpo. E esta é apenas uma estratégia em dezenas das que são possíveis. Cada jogador deve escolher a sua própria e adapatar-se a cada situação.

Mas, mesmo com todas estas precauções, Under Siege não é pêra doce. Ainda por cima, não temos checkpoints de onde podemos recomeçar se morrermos, o que dificulta ainda mais a tarefa. No entanto a dificuldade não deve ser um ponto negativo, desde que não seja excessivamente difícil. E a verdade é que assim que dominamos a técnica por detrás do jogo, a experiência torna-se rica e gratificante. Mesmo aqueles que não são grandes fãs de RTS poderão vir a gostar deste jogo e passar um bom bocado.
Há também variedade em cada missão: apesar de a mecânica ser fundamentalmente a mesma, existem várias hipóteses de passar a mesma missão e há vários tipos de tropa que podemos escolher: existem uns tipos que criam escudos defensivos, sapos que lançam setas venenosas, um género de padres que curam, outros que deixam bombas no terreno, entre outros. Todas estas hipóteses têm de ser bem estudadas antes de cada missão de modo a conseguir alcançar o seu sucesso. Além disso, podemos ainda aumentar o número de unidades dentro de cada tipo de tropa e evoluir essa mesma tropa, aumentando os seus atributos e desbloqueando os ataques especiais secundários. Tudo isto é feito através da moeda do jogo, o ouro, que é ganho matando inimigos e descobrindo baús pelos níveis (que também escondem algumas poções).
Em suma, posso dizer que a dificuldade acrescida de Under Siege é compensada pela sua jogabilidade intuitiva (embora repetitiva para os mais impacientes) e gratificante.

Antes de cada missão podemos escolher o tipo de tropas que queremos
Tenho a lamentar a ausência de qualquer voz neste jogo. Compreendo que seja bastante complicado para a Seed Studios arranjar actores competentes, mas a verdade é que alguns diálogos sonoros vinham mesmo a calhar.
A música também não está má e cumpre o seu papel, embora se possa tornar um bocado repetitiva visto o tema principal ser repetido várias vezes ao longo da campanha e os temas secundários serem relativamente semelhantes.
Ponto positivo, no entanto, para os efeitos sonoros do jogo que são mesmo de louvar. O grito dos soldados, o som das flechas, as explosões das bombas, tudo está bastante realista e optimiza substancialmente a experiência visual de Under Siege.
Podem contar com efeitos sonoros bastante realistas neste jogo. Apenas peca mesmo pela ausência de voz e de maior variação do tom da música. Há que destacar, contudo, a possibilidade de ouvir as nossas próprias músicas gravadas na PS3, o que já compensa.

Irão percorrer a campanha por umas 6-10 horas (dependendo do nível de dificuldade e da vossa experiência), o que já é bastante bom, tendo em conta que há jogos por 70€ que não têm esta duração. A história que vos acompanha envolve conflitos políticos e militares dos dois lados das facções, o que acaba por ser algo interessante. Também podem ficar descansados porque a variedade de mapas é bastante, e há vários caminhos diferentes para escolher em cada missão. Repetir a campanha não se torna tão maçador como isso, visto que ficou aquela pergunta a ecoar na cabeça "E se tivesse utilizado esta táctica?". Além disso, podem sempre jogar numa dificuldade mais difícil e, acreditem em mim, vai ser um teste à vossa paciência.

Podem configurar o vosso perfil antes de ir online
Depois da campanha podem testar o modo multijogador. Com pena minha, não consegui jogar nenhum jogo online. Cheguei a encontrar outros jogadores estrangeiros, mas estes apressaram-se a abandonar a sala de jogo. Caramba, não sou assim tão bom!
Podem criar no entanto a vossa própria sala e definir o tipo e mapas de jogo, ou juntar-se a salas já existentes. Podem ainda jogar em competitivo (um contra o outro) ou cooperativo: neste caso cada um tem a sua tropa (um joga pelo lado dos bons da campanha e outro pelo lado dos maus, mas ambos aliados) e os dois juntam forças para a enorme vaga de inimigos que vos irá aparecer. Nada fácil, requer bastante estratégia e táctica.
Podem ainda jogar, em vez de online, com um amigo em ecrã dividido. Neste caso, é mesmo dividio, já que o jogo divide automaticamente o ecrã em 4 quadrados, mesmo que sejam só 2.
Podem ainda criar níveis no modo de edição de mapas. Devo dizer que está mesmo muito bem conseguido, sendo possível mexer em quase todos os aspectos: criar lagos, montanhas, mudar o ambiente e a iluminação, colocar troncos, barcos e fogueiras, criar inúmeras tropas inimigas e objectivos, enfim, creio mesmo que é possível recriar a campanha do jogo neste modo... Podemos até criar cutscenes como as do jogo!
De resto, pouco mais há que se faça por Under Siege. Curioso (e bem conseguido) o facto de irmos ganhando títulos que podemos colocar por baixo da nossa PSN ID, algo do género que acontecia em Modern Warfare 2. Se criarmos um nível, por exemplo, ganhamos o título "The Artist".

Concluindo, posso dizer que Under Siege me surpreendeu bastante pela positiva e tornou-se numa experiência agradável. É verdade que não é para todos os gostos, especialmente para aqueles que querem é entrar num campo de batalha logo de uma vez e chacinar tudo o que tenha pernas. Este jogo requer tempo e paciência, e uma boa dose de estratégia, não fosse o género ser assim chamado.
Para aqueles que procuram algo diferente do que estão habituados, ou simplesmente querem ver do que os portugueses são capazes de fazer, Under Siege é uma opção a ponderar.

Há poucos editores tão bons como este


Surpreendentemente polidos e limpos, agradam à vista a maior parte do tempo. Nas aproximações da câmera, perdem-se alguns detalhes e as texturas (que outrora já eram más) pioram. Ponto positivo para a direcção artística do jogo, que é de invejar a muitas produtoras estrangeiras.


Um género que foi criado originalmente para PC está aqui adaptado a uma consola de forma exemplar. Se quiserem algo novo ainda, podem utilizar o comando Move, embora isto ainda dificulte mais, na minha opinião.
Contudo, a experiência pode ser algo repetitiva (apesar da variedade de cenários) e a dificuldade não ajuda nada neste aspecto.


Os temas musicais são praticamente idênticos entre si, o que por vezes farta. Também era muito bem-vinda a adição de vozes aos diálogos. Contudo, os efeitos sonoros estão bastante realistas e a possibilidade de importar músicas do disco da PS3 (algo raro actualmente) compensa bastante.


A campanha irá demorar-vos entre oito a dez horas, o que é de louvar num jogo adquirido a este preço. A adição de uma componente multijogador é muito bem-vinda, não fosse o facto de ser difícil encontrar uma sala. Podem sempre, no entanto, jogar em ecrã dividido ou convidar alguém da vossa lista de amigos.
Muito bem conseguido o poderoso editor de jogo.




Finalmente Portugal demonstra que também sabe fazer videojogos, o que contribui bastante para elevar a nossa auto-estima nos dias que correm. Under Siege é um jogo sólido e competente e que demonstra de forma exemplar que é possível transportar para as consolas um género criado para PC, a estratégia em tempo real. Acompanhado de uma jogabilidade intuitiva, embora difícil, este jogo acaba por ser uma experiência diferente e positiva.


Cumprimentos,

Lopes.



3 comentários:

Kiko disse...

Um grande jogo e ainda mais que isso..uma análise suberba.

Rui disse...

Gostei bastante da análise... Adorei o jogo, acho que tem uns problemazitos mas está mesmo muito bom. Vale a pena para todos os fãs de jogos de estratégia e não só

Anónimo disse...

Tenho este jogo e no inicio é bastante difícil mas com o treino o jogo torna-se mais fácil .

Boa análise.
Keep going

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