[Análise] Max Payne 3



ANÁLISES




















Max Payne é uma série de peso, que nasceu em 2001 nos tempos da PlayStation 2. No primeiro jogo da série várias companhias estavam envolvidas: na produção estavam Rockstar, Remedy Entertainment, 3D Realms e Max Soft; para a distribuição contribuíram a Rockstar, Capcom, Valve, Max Soft e muitas outras. Tratava-se de um projecto bem ambicioso que pretendia revolucionar os third-person shooters com a inclusão do efeito Bullet Time, que abranda o tempo, e que influenciou muitos outros jogos posteriores.
Max Payne 3 é o primeiro da série a ser lançado na nova geração e o terminar de uma trilogia que fez história nos videojogos. A produção já durava há muito tempo, vamos ver se a Rockstar conseguiu criar mais uma obra-prima.

Veredicto

Max Payne 3 apresenta-nos de cara o carácter psicologicamente afectado de Max, cuja sua vida (depois do assassinato da mulher e filha no primeiro jogo, altura em que o protagonista estava em ascensão na carreira policial) é agora pachorrenta, chata e fortemente baseada no consumo não controlado de álcool. Contudo, a Rockstar não pretende transmitir uma imagem má do protagonista, mas sim de alguém que já sofreu muito na vida e procura agora a redenção pelos seus actos, através da justiça de quem protege.

O jogo toma lugar maioritariamente no Brasil, mais especificamente em São Paulo. Max viajava para a terra do samba e caipirinhas devido a um convite do seu amigo Raul Passos, que lhe faz uma proposta de vir trabalhar com ele como guarda-costas pessoal de uma família rica e importante. O jogo começa logo a abrir com uma cena de tiroteio numa discoteca. É aqui que uma das personagens importantes é raptada e grande parte do jogo centra-se na busca e salvamento dessa pessoa. Muitos acontecimentos irão desenrolar pelo caminho e algumas surpresas. A história que se desenrola no presente irá várias vezes resgatar acontecimentos do passado, vividos por Max, para explicar determinada situação: neste momento, o protagonista regressa ao passado quando ainda estava em New Jersey, nos EUA, combatendo lado-a-lado com Passos, antes de vir para o Brasil. Todas estas sequências serão explicadas.

A história acaba por ser interessante e os "solavancos" e problemas que acontecem pelo caminho fazem-nos prender a ela. Contudo, não é digna de um roteiro de Hollywood ou de um livro, é mais uma história secundária que serve como explicação para interligar todas as cenas de tiroteio por onde Max passa, quer seja a explodir rockets na favela ou a saltar de barcos numa perseguição de lanchas aquáticas.
O que é bom é que não é necessário ter jogado os jogos anteriores para se perceber a história deste. O próprio jogo dá-nos pistas do passado negro de Max e todos os acontecimentos não têm ligação directa ou quaisquer referências necessárias ao passado. Os jogadores poderão estrear-se em Max Payne 3 sem qualquer problema.

Max Payne procura a redenção e ao mesmo tempo luta contra o vício do álcool

A variedade de cenários do jogo ajuda a compensar a repetitividade escondida na jogabilidade. Embora o jogo se possa tornar monótono com o progresso (como explicarei mais à frente), os cenários são bem bonitos e retratam bem o clima do Brasil.
A versão testada foi a de PC, por isso não me posso pronunciar sobre os gráficos para consola. Joguei com os gráficos no máximo (como na imagem embaixo), sem anti-aliasing, e a 60 FPS estáveis, com ocasionais quedas de frames. Contudo, Max Payne 3 sofre do que muitos jogos multi-plataformas sofrem: os gráficos não surpreendem tanto quanto isso. É possível que na versão para consolas estejam até bem agradáveis (e não digo que no PC não estejam), mas era de se esperar algo melhor, sobretudo na geração em que estamos.

As texturas estão bonitas, as explosões convincentes, a água bem conseguida e, no geral, está bonito. Há que salientar as expressões faciais, que não estão nada más.
Contudo, os gráficos descem absurdamente nas cutscenes pré-renderizadas, tendo pior qualidade que o visual in-game, o que devia ser o contrário. O que eu penso é que a Rockstar criou as mesmas cutscenes (com os mesmos gráficos) para todas as plataformas. Para, na versão consola, o visual das cutscenes não destoar muito dos gráficos in-game, baixou a resolução e qualidade das mesmas. Isto até pode resultar bem nas consolas, mas para PC fica feio ver uma cutscene com pior qualidade do que quando estou a jogar.

Mas se há coisa que a Rockstar faz, e bem, é focar-se nos pormenores. Quando estamos a recarregar uma pistola, por exemplo, e temos uma espingarda na outra mão, Max tem o cuidado de colocar a espingarda debaixo do braço para poder recarregar a pistola com as duas mãos. Se estamos debaixo de cobertura com um vidro em cima, quando apontamos (antes de dispararmos), Max parte o vidro com a coronha da arma para podermos atirar. Na maioria das cutscenes vemos o protagonista com as armas que tínhamos antes de ela começar: se tínhamos uma shotgun, por exemplo, Max pousa a arma numa mesa antes de começar a mexer naquilo a que tinha de fazer.
Esta atenção aos pormenores é, sem dúvida, o grande trunfo de Max Payne 3.

Um exemplo do jogo a correr nos máximos.

A jogabilidade é um misto de divertido com monótono. Ao início apresenta-nos fluida, simples e satisfatória q.b. Contudo, à medida que avançamos, começamos a perceber que se trata mais do mesmo: temos de entrar numa sala cheia de inimigos, damos um salto para mandar um headshot em 5 deles no ar, avançamos para outra sala, mais headshots e cutscenes e por aí fora. A Rockstar ainda assim esforçou-se por diversificar, incluindo no jogo cenas de perseguições, missões furtivas, algumas secções de sniper e de lança-rockets, e até variando os inimigos, apresentando alguns com capacetes, coletes e pesadas armaduras e miniguns. Por falar neste último tipo, tenham cuidado com ele no final do capítulo 12: mesmo jogando numa dificuldade baixa, é super-difícil de o matar pois ele tem uma armadura fortíssima, uma minigun que quase não é preciso recarregar e ainda por cima temos tempo-limite. Chega a ser irritante tentar passar por este mini-boss.

Algumas secções chegam-se a assemelhar a ficção científica, parecendo que Max dispõe de poderes sobre-naturais: nunca na vida um ser humano conseguiria acertar num rocket a alta velocidade com uma pistola pendurado de um helicóptero, saltar de um comboio em andamento para outro, dar 8 headshots enquanto salta de um barco depois de uma explosão, mas Max fá-lo com a facilidade com que toma o seu drink antes de dormir. Há quem goste de ter estas habilidades todas no jogo, mas poderão haver alguns jogadores que acharão ridículo.
Mas não pensem que, lá por serem o Max Payne, vão encontrar aqui um jogo fácil. Longe disso, Max Payne 3 não é pêra-doce. Jogando na dificuldade Normal houve algumas situações de arrancar cabelos, sobretudo devido ao dano elevado que os inimigos tiram e ao facto de a vida não se regenerar sozinha: são precisos comprimidos que estão com pouca frequência espalhados pelo mapa. Contudo, se começarem a morrer muitas vezes seguidas na mesma secção, o jogo dá uma ajudazinha, pondo-vos a renascer com mais comprimidos.

O efeito cinemático das balas é muito bom

O Bullet Time funciona muito bem e é divertido de usar. Dispomos de uma barra que regenera lentamente para o activarmos. Também podemos saltar e abrandar o tempo, mas este efeito consome imenso da barra; mesmo quando ela acaba, podemos usar o efeito na mesma, mas a barra já foi toda embora. A estratégia ideal é, portanto, usar o Bullet Time enquanto temos barra e, quando esta acabar, darmos os saltos à Matrix. 
O sistema de cobertura não é perfeito mas sem dúvida que funciona. Raramente tive problemas, apenas uma ou outra ocasião em que a cabeça de Max se metia à frente da mira. Além disso, é irritante quando estamos em cover e caímos ao chão: quando nos levantamos, em vez de o jogo nos colocar automaticamente na cobertura onde estávamos, temos de ser nós a entrar novamente no cover, levando com algumas balas durante o processo.

Só morremos no jogo quando ficamos sem comprimidos e a vida vai toda embora. Se ainda temos comprimidos quando a vida acabou, temos um género de "last chance": o jogo entra automaticamente em Bullet Time e se conseguirmos atingir o inimigo que nos matou antes do last chance terminar, é gastado um comprimido e o jogo põe-nos de volta à acção. Se não temos comprimidos, não há last chance para ninguém: é tiro e queda.

Max Payne tem uma pontaria quase sobre-humana

Outro aspecto realista é o facto de se notar bem a idade de Max. Quando o protagonista cai, ele não se levanta com uma agilidade suprema, mas sim demora o seu tempo, uma perna de cada vez. Também se queixa quando choca com uma parede ou cai das escadas.

O que está também realista são os efeitos cinemáticos dos diferentes tipos de armas. 
Quando atingimos um inimigo com uma shotgun este é projectado para trás mas se, por exemplo, lhe damos um headshot com uma pistola, ele até pode ficar no mesmo lugar e cair sobre si. Se atingimos alguém nas pernas, ele cai e demora-se a levantar. Se atingimos no braço, ouvimo-lo a queixar-se do braço e se atingirmos no coração é morte instantânea e vê-se o sangue a jorrar. O que também é sempre morte certa é um tiro na cabeça e acreditem, neste jogo é fácil, sobretudo se jogarem com a mira locked (existem três opções de mira: free, soft lock e hard lock).

Quando matamos o último inimigo de uma secção é desencadeada um efeito cinemático no qual vemos a bala a atingir o inimigo. Podemos até abrandar o efeito ao nosso gosto carregando numa tecla específica. Excelente efeito, devo dizer.

Headshots são pêra-doce para Max

Max Payne é uma das personagens mais carismáticas desta geração e da passada. Apresenta um diálogo coeso, interessante e profundo. Posso dizer que de 10 em 10 segundos quando estão a jogar, enquanto matam os inimigos, Max narra aquilo que está a acontecer, sempre lançando uma piada ou outra de "humor negro". Há quem irá achar o falatório em demasia, eu gostei. Até o próprio Quit Screen é diferente do habitual (pelo menos na versão PC): são-nos dadas duas opções para sair ou não, mas em vez do habitual "Tem a certeza que deseja sair?" é apresentado um episódio da vida de Max e a opção de sair corresponde a voltar as costas a esse episódio e ficar no jogo significa lutar.

O casting vocal também é muito bom: quase todo o jogo se encontra em brasileiro (excepto, claro, as secções de diálogo de Max). Vamos ouvir com muita frequência os inimigos brasileiros a dizerem altas asneiras, a reclamarem de terem sido alvejados ou desesperados em tentar matar-nos. A voz de uma das personagens do jogo, Fabiana Branco, é dada pela actriz portuguesa Benedita Pereira, e até não está um mau trabalho.
As vozes brasileiras são dadas por próprios nativos do Brasil, e não por americanos no estúdio da Rockstar que aprenderam brasileiro. O trabalho vocal está, portanto, muito realista.

A banda sonora também é de boa qualidade. Na favela ouvimos raps brasileiros e a própria música do jogo é envolvente e carismática. A da última missão, a mesma que passa nos créditos, condiz muito bem com toda a trama da série.

O Multijogador entretém mas alguns não irão achar grande piada

Demorei cerca de 10 horas a terminar o jogo na dificuldade Normal, com algumas mortes e procurando ligeiramente o cenário em busca de pedaços de armas douradas (um dos itens colectáveis do jogo que, quando apanhamos 3 pedaços dourados da mesma arma, pintam a arma em questão de ouro; também existem outro tipo de itens coleccionáveis: as pistas espalhadas pelos níveis, que nos contam um pouco mais da história). Há quem irá achar esta duração pequena, há quem ache grande. Eu achei suficiente.
Para além de desbloquearmos dificuldades avançadas e do desejo de ter todas as armas a ouro, pouco mais há que motive o jogador a investir uma segunda vez na campanha.

Temos também um modo multijogador. Se estão a pensar ver daqui um grande concorrente aos modos mulitplayer de Call of Duty e Battlefield, esqueçam. É divertido, tem montes de itens para desbloquear, níveis, emblemas, avatares, classes, mas é apenas um extra a mais. Contudo, há quem irá gostar o suficiente para se aventurar por muito tempo, e o Bullet Time funciona bem no multiplayer. Deparei-me com um cheater logo na primeira partida que joguei: estava a usar hacks e nunca perdia vida. Esperemos que não seja caso frequente no futuro.

Em suma, Max Payne 3 é um grande jogo e sem dúvida um dos melhores third-person shooters deste ano. O seu carácter carismático e jogabilidade irreverente fazem dele uma aposta sólida no mundo dos videojogos, sobretudo para quem procura um shooter com uma história interessante e quer dar montes de headshots.

A quantidade de sangue que jorra do inimigo depende de cada arma




O visual da versão testada para PC, mesmo com os gráficos no máximo, não surpreendeu, mas também não desiludiu. É pena a má qualidade das cutscenes, mas as texturas estão bem conseguidas, as expressões faciais realistas e a atenção ao pormenor de louvar. Ponto positivo para a destruição do cenário.




Há quem irá achar muita piada ao Bullet Time, outros acharão repetitivo com o tempo. A dificuldade do jogo é ligeiramente superior à média (o que até é bom) e a atenção prestada aos efeitos de cada arma é de aplaudir.



O tom carismático de Max é muito bom e o casting vocal, quer das vozes brasileiras quer das americanas, está muito competente. A trilha sonora é de excelência.
A narração do protagonista enquanto jogamos entretém, mas alguns poderão achar aborrecido.



A campanha dura cerca de 10 horas, mais ainda se passarem nas dificuldades mais altas e/ou se pretenderem apanhar todos os itens coleccionáveis. Não fica o desejo de repetir a campanha mas existe ainda um modo multijogador que entretém.







Max Payne 3 honra a trilogia com um jogo competente e fiel às suas raízes. Conta com uma jogabilidade diferente da habitual, personagens carismáticas e um humor negro muito bem disfarçado. Apesar de ter as suas falhas, é sem dúvida um bom jogo e possível candidato a Jogo do Ano até agora.





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