[Análise] Dishonored



ANÁLISES


















Numa altura em que a indústria está cada vez mais saturada de jogos genéricos e que seguem uma fórmula de modo a conseguir vendas, é de louvar iniciativas como a da Bethesda em trazer IP's completamente novos, ao invés de se esconder atrás de sequelas intermináveis de sucesso comercial. Dishonored é uma lufada de ar fresco, um sub-género inovador desta geração e a prova de que ainda há espaço para inovar e criar novos conteúdos. As minhas expectativas para Dishonored eram altas, mas mesmo assim a Arkane Studios surpreendeu-me.

Veredicto

Em Dishonored controlamos Corvo Attano, o guarda-costas da Imperatriz. Contudo, logo ao início do jogo (descansem, não é nenhum spoiler) a Imperatriz é assassinada e Corvo é determinado culpado e preso, vítima de uma conspiração para roubar o trono e assumir o poder. E é aqui que o jogo começa, com a nossa fuga da prisão, o primeiro contacto com os nossos aliados, e por aí fora. Perto do final do jogo, a história dará uma enorme reviravolta, tornando-a mais interessante. Numa perspectiva geral, o enredo de Dishonored é cativante, mas está longe de ser o seu ponto forte e a falta de uma narração mais presente dificulta ao jogador identificar-se com ela. Não é nenhum flop, a história é interessante, mas não esperem aqui algo digno de um bestseller.

O jogo apresenta três finais: um bom (Low Chaos), um mau (High Chaos) e um terrível, que só se forem mesmo repugnantes é que irão obter. O resultado final dependerá das nossas escolhas e de como jogamos. Se optarmos por uma abordagem stealth, não matando os nossos inimigos, usando dardos para adormecer  não criando alertas, iremos obter o final bonzinho. Este foi o meu final, optei por ir mais escondido e pôr os inimigos desmaiados em vez de os matar. Se, por outro lado, preferirem entrar a abrir em cada missão, matando tudo  o que se mexe, irão levar com o final mau. Após cada missão, é-vos dito o ranking da mesma (Low Chaos ou High Chaos); o grande final, e respectiva cutscene, dependerá destas classificações.

Apesar do jogo apoiar as abordagens furtivas (com vários poderes, passagens secretas, etc.) fica muito mais fácil se matarmos os nossos inimigos do que usar dardos de adormecer, por exemplo. Torna-se muito mais fácil simplesmente eliminarmos os nossos inimigos e todos os alvos do que estar preocupado em entrar despercebido, esconder o corpo, não fazer barulho, etc. O caminho do bem, como na vida, é mais difícil, mas ao mesmo tempo é mais recompensador.

Samuel tem um grande respeito e admiração por Corvo
Há um leque enorme de poderes à nossa disposição, desde tomar o controlo de um corpo, invocar um enxame de ratos infectados, abrandar o tempo, mas os mais básicos e essenciais são o Blink (que nos permite teleportar uma pequena distância) e Dark Vision (com o qual podemos ver os inimigos e objectos através das paredes). Também há poderes para aqueles  que optem por uma abordagem agressiva, como um pulso de vento que atira inimigos contra as paredes, uma habilidade que faz com que estes se tornem em cinzas quando morrem, etc.
Podemos comprar novos poderes e evoluí-los à custa de Runes, que irão estar espalhadas e escondidas pelos mapas de cada nível.

Para além dos poderes, temos ainda Bone Charms. Os Bone Charms são amuletos que ao colocarmos em Corvo nos concedem alguns poderes, como trepar mais depressa, aumentar um pouco a barra de mana, atrasar a explosão das granadas dos inimigos, etc. Há, ao todo, mais de 30 Bone Charms espalhados pelos níveis, mas só podemos usar um número limitado deles de cada vez. Ao início começamos com 3, mas podemos comprar a Piero (o nosso cientista e engenheiro) mais slots, para além de munição e uprgrades às armas, etc.

Para encontrarmos as Runes e os Bone Charms usaremos um coração artificial que irá bater mais depressa à medida que nos aproximamos destes itens. O coração serve também para outras coisas: podemos apontar a uma pessoa e revela-nos segredos sobre ela ou sobre o local em que nos situamos. Uma sugestão: apontem a Samuel, o vosso barqueiro, para ouvir a sua triste história de um amor perdido.

Temos uma variedade de poderes para usar, uns mais discretos que outros
Temos também alguns gadgets à nossa disposição. Para além da nossa fiel espada de assassino e da nossa besta, podemos usar granadas, colocar armadilhas no chão sensíveis ao movimento, e até sabotar circuitos para desactivar alarmes e inverter a polaridade das Wall of Light e Arc Pylons. O que são estes dois últimos nomes? As Wall of Light são, como o nome indica, paredes de electricidade que, ao passarmos por elas, somos electrocutados e morremos. Os inimigos são imunes a estas paredes, visto que o circuito está desenhado para ignorá-los, mas podemos inverter o mecanismo, sabotando-o. Os Arc Pylons são torres que, conforme nos aproximamos delas, disparam choques eléctricos que tiram uma enorme quantidade de vida. Tal como as Wall of Light, também podem ser sabotadas.

E se o jogador quiser desactivar estes dois obstáculos sem torná-los letais para os inimigos (de modo a conseguir o final bonzinho)? Pode simplesmente remover o tanque de óleo que abastece estes mecanismos, geralmente colocado ao lado do circuito que sabotamos.

Se tivesse de definir a jogabilidade de Dishonored em uma frase, diria que é um Assassin's Creed em primeira pessoa. Os fãs da série de Altaïr e Ezio irão adorar este jogo. Há sempre aquela preocupação constante de não alertar ninguém, medindo muito bem cada passo.

O mais fascinante em Dishonored é o número incrivelmente alto de maneiras como podemos passar cada missão e a forma como vemos o mundo moldar-se consoante as nossas decisões (se matarmos toda a gente, começamos a ver cada vez mais "zombies", por exemplo). Há sempre uma forma não-letal de passar cada missão. E, por fantástico que pareça, também há uma maneira de eliminarmos os nossos alvos principais sem os matarmos. Geralmente teremos de procurar um pouco pelo mapa de cada missão até descobrirmos a quest secundária que nos irá desbloquear a hipótese de eliminarmos o alvo sem o matar. Vou-vos dar um exemplo: numa das missões teremos de eliminar dois irmãos gémeos; podemos simplesmente invadir a casa e matá-los sem misericórdia, ou, através de um acordo com uma personagem de uma missão secundária, pô-los a trabalhar como escravos nas minas. Ambos os métodos permitem concluir a missão com sucesso, a diferença está que do modo não-letal iremos ter mais hipóteses de conseguir um final bonzinho. 
Sempre que podia tentava pôr os inimigos a dormir, mas os alvos principais geralmente gostava de matar, sobretudo pelos actos que cometeram.

Podemos virar as Wall of Light contra os nossos inimigos
É difícil explicar a jogabilidade de Dishonored, só jogando mesmo para perceber a beleza do jogo. O leque de possibilidades em cada missão é tão gigante que nos sentimos mesmo na pele de um assassino e que criamos a nossa própria história.

A inteligência artificial está muito boa, os inimigos reagem automaticamente quando ouvem algum barulho. Basta batermos com a nossa espada nas grades ou atirar uma garrafa de vidro que entram logo em estado de alerta.

Após cada missão é-nos dada a opção de repeti-la. Para além disso, podemos seleccionar uma missão para a jogar de novo no menu principal do jogo. Tudo isto aumenta muito o replay value, queremos sempre saber o que teria acontecido se não tivéssemos eliminado aquele alvo ou se optássemos por um caminho secreto.

O fantástico de Dishonored é que tem uma jogabilidade simples de perceber, mas ao mesmo tempo cativante, viciante e desafiadora. Não pensem que lá por terem enormes poderes que vai ser fácil passar pelos inimigos. Muitas (e acreditem em mim, muitas) vezes irão ser apanhados e lá terão de enfrentar os inimigos cara-a-cara. Como se não bastasse, a partir de meio do jogo terão os Tallboys a patrulhar as ruas, robôs bípedes gigantes que disparam chamas e flechas se vos vêm. Matar estas coisas não é fácil, mas também não é pêra doce tentar contorná-los sem nos verem.

Para além de armados, os Tallboys têm holofotes para nos ver nas sombras
Os gráficos de Dishonored não impressionam e de longe não são o seu ponto forte. As texturas são feias e lisas. Mas, num contexto geral, não atrapalham e os cenários até são bonitos, com um grande leque de cores. Os visuais cartoonescos dão-lhe um certo carisma e acabam por disfarçar, em parte, os fracos gráficos.

De resto, a movimentação está bem feita, a física bem conseguida, e tudo o resto parece realista. É pena não haver cutscenes no jogo, para além da inicial e da final. Tudo se passa em diálogos, bem ao estilo de Skyrim. Podemos inclusive escolher algumas das falas, que irão também influenciar o grande final.

Em termos sonoros, não há muito a apontar sobre Dishonored. As falas estão carismáticas e bem feitas, assim como os ruídos e os efeitos sonoros, mas a música é uma ausência constante ao longo do jogo. Só ouvimos um pouco dela entre missões ou quando somos descobertos pelo inimigo, para ajudar um pouco a subir a adrenalina. Percebo que assim a experiência se torne mais imersiva, ao ouvirmos apenas os nossos passos e os diálogos dos inimigos, mas um pouco de banda sonora em alguns momentos mais solenes teria ajudado. A música até é boa, mas muito ausente.

Dark Vision é uma das habilidades essenciais de Corvo
Dishonored tem 9 missões principais, fora algumas outras de menor importância e as secundárias. À primeira vista parecem poucas, mas levem em conta que cada uma é bem grande e demora mais de uma hora para terminar, dependendo, claro, do caminho que tomarem. Na minha primeira vez, demorei entre 10 a 15 horas a terminar, mas se souberem todos os atalhos e maneiras mais rápidas terminarão o jogo em apenas 6 ou 7 horas. Alguns podem achar pouco, eu acho a duração ideal. Além disso, depois de terminarmos, ficamos com aquele desejo imenso de querer repetir, não só pela qualidade incontestável do jogo mas também para testarmos agora uma abordagem e técnicas diferentes. Há muito que não ficava com a vontade de querer repetir um jogo depois de o terminar.

Dishonored é sem dúvida um dos melhores jogos desta geração. Sim, desta geração. É de aplaudir a iniciativa de trazer algo de diferente e de mostrar ao mundo que há sempre espaço para inovar neste mercado. Não só é um dos mais belos jogos da Bethesda, como também um título absolutamente recomendado para os amantes de jogos de stealth, bem ao estilo Assassin's Creed. Os fãs de acção e grandes explosões também têm o seu lugar neste jogo. Dishonored oferece o melhor de dois mundos, a verdadeira liberdade num único pacote. Uma obra-prima.

Quantos mais inimigos matarmos, mais Weepers (zombies) irão aparecer pelo caminho



Na versão testada para PlayStation 3, os gráficos estão bem fraquinhos e as texturas são muito más. Os cenários até são bonitos, coloridos e o aspecto cartoonesco dá um certo carisma. Mas mesmo assim, está longe de impressionar e não é certamente um dos pontos fortes de Dishonored.



Num mundo com tantas variáveis, tantas escolhas, tantas hipóteses de seguir, a jogabilidade não pode ser nada menos que perfeita. A única coisa que podia ser estragada era a movimentação do personagem ou o sistema de combate, mas mesmo estes aspectos estão muito bem executados. Há tanto para fazer em Dishonored que cada jogador terá uma experiência diferente, cada um viverá uma campanha própria, somos ensinados a pensar "outside the box". O nosso modo de passarmos o jogo será único, e essa é a verdadeira beleza de Dishonored.



A banda sonora é de qualidade, mas a música é uma ausência frequente ao longo do jogo. Praticamente durante a totalidade de cada missão apenas iremos ouvir os nosso passos e dos inimigos. Este aspecto ajuda à imersão, mas tira em parte a epicidade.
De resto, o trabalho de vozes é bem competente. Para terem uma ideia, a actriz que dá voz a uma das personagens secundárias, a Granny Rags, é Susan Sarandon, vencedora de um Óscar de melhor actriz.



As cerca de 12 horas de campanha poderão saber a pouco para alguns, mas o grande desejo de fazer uma segunda investida prolonga muito a longevidade. Além disso, há montes de Runes e Bone Charms para apanhar e várias missões secundárias por fazer. Não há limite em Dishonored, podemos fazer praticamente tudo o que nos der na gana.





Dishonored é incontestavelmente um dos melhores jogos desta geração. Brilha em todo o seu esplendor naquilo a que se propõe a fazer: oferecer um leque enorme de possibilidades ao jogador. Cada um terá uma experiência diferente, uma maneira própria de jogar. As decisões que habitualmente tomamos na nossa vida reflectem os nossos actos e escolhas no jogo e o modo como o jogamos, e essa é a grande pérola por detrás desta obra-prima. É com certeza um candidato a jogo do ano e, mais que isso, absolutamente recomendado a todos os leitores.




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