[Análise] Gears of War: Judgment



ANÁLISES





















Dois anos e meio depois de Gears of War 3 encerrar a aclamada trilogia protagonizada por Marcus Phoenix, Gears of War: Judgment vem agora na forma de uma prequela. Mas será este um título para aproveitar o que resta da série nesta geração de consolas e facturar mais umas receitas? Ou trata-se de mais um título digno do nome da série e da apreciação dos fãs?

Veredicto

Judgment, como o próprio nome indica, relata a história do Esquadrão Kilo na altura em que este chega ao tribunal por crimes cometidos em guerra (mais especificamente, por desobedecer a uma ordem que mais tarde no jogo perceberemos porquê). O jogador assume o papel de Damon Baird, junto com os restantes elementos da equipa: Augustus Cole, Onyx Guard e Sofia Hendirk. Cada nível da campanha é nada mais nada menos que o testemunho de cada um dos elementos ao tribunal, pelo que a maior parte do jogo iremos estar a reviver momentos do passado narrados pelos diversos camaradas do Esquadrão Kilo. Só no final mesmo é que assumimos o controlo no presente, mas isso deixo para o jogador descobrir por ele.

Depois de terminarmos a campanha e se tivermos acumulado pontos suficientes (já explico mais à frente como os ganhamos), desbloqueamos o Aftermath, uma segunda parte da campanha com uma duração de cerca de uma hora que corresponde a uma secção de Gears of War 3 no momento em que Baird se separa de Marcus em busca do barco de Garron Paduk.

Os cenários continuam lindos e variados
Judgment usa e abusa o mesmo motor gráfico de Gears of War 3 e 2, o Unreal Engine 3.5. Os gráficos estão lindos, idênticos à excelência que a série já nos habituou. Claro que há umas quedas de framerate aqui ou acolá, sobretudo em momentos de maior quantidade de elementos no ecrã, mas no geral o jogo corre com uma excelente fluidez. Escusado será dizer que os cenários criados pela Epic Games continuam soberbos, assim como as explosões e elementos como fogo, água, nevoeiro, relva, etc.

Mas naquilo que se nota a maior mudança é na jogabilidade. A produtora de Bulletstorm - People Can Fly - deixou claramente a sua pegada neste jogo, muito mais do que a sua outrora pouca contribuição nos restantes jogos da série. Judgment procura ser muito mais um shooter divertido do que uma experiência cinematográfica e sentimental. Quantos de nós não choraram com os momentos de Dom no Gears of War 2 e 3? Em Judgment são muito raros estes momentos, o único mais sentimental tem haver com a relação de Paduk com Sofia e apenas surge em Aftermath.

Tudo foi alterado de modo a tornar o jogo mais "arcade". Agora há sistema de estrelas e missões: há medida que vamos matando inimigos, dando headshots, execuções, etc. vamos acumulando estrelas. Para além disso, podemos também optar por fazer objectivos secundários opcionais para conseguir mais estrelas: em cada missão, há um graffiti numa parede que nos permite concluir essa missão de um determinado modo (completá-la em 5 minutos, usar apenas caçadeiras, etc.). Ao chegarmos a cada checkpoint são também apresentadas as estatísticas de cada jogador e o seu progresso de níveis.

Há novos monstros e armas, mas a grande maioria já existia nos outros jogos
Tudo isto se relaciona com a política de jogo "divertido" da People Can Fly, que se preocupa em fazer jogos com uma jogabildiade mais efusiva do que propriamente interligar a jogabilidade com a história e o clima de tensão do jogo. Em Judgment, cada missão se resume ao básico: ir deste ponto àquele limpando hordas de inimigos pelo caminho. Claro que há excepções, como uma espécie de recriação do Desembarque da Normandia, uma secção de noveiro intenso, etc. Mas de resto, o jogo encontra-se demasiado linear e repetitivo. Chegaram ao ponto de transformar secções da campanha em níveis do novo modo Overrun, onde temos de defender determinada sala dos inimigos, só para tentar diversificar algo que não precisava, anteriormente, de ser diversificado.

Claro que todo o carisma que emana da série Gears of War continua presente neste jogo: o excelente humor das personagens e as suas piadas, o carácter badass de alguns dos protagonistas, a grande variedade de monstros (que mesmo assim, à excepção de alguns novos, são uma reciclagem dos antigos), etc. A essência da série continua presente, mas o modo como é encarado é de um carácter muito mais leviano e despreocupado, sem se esforçar tanto em ser a obra prima que os anteriores jogos o foram.

De resto, a acção toda em Judgment anda muito rápida e parece que empurra o jogador em frente. Se tentamos ficar para trás e eliminar os inimigos com calma e precisão, os nossos companheiros de equipa avançam demasiado e separam-se de nós. E, como se não bastasse, se algum dos nossos companheiros avançar demasiado no mapa, somos tele-transportados para ele (devido aos checkpoints). E, já que toco neste ponto, aproveito para dizer que a Inteligência Artificial do nosso esquadrão é bem medíocre. Desde ficarem longamente a segurar granadas na mão, a passarem por nós sem nos reviver, a ficarem breakados numa parede, há de tudo para rir e para chorar. Torna-se assim evidente que a campanha de Judgment foi criada com a intenção de passarmos com mais três amigos, mas se nos outros jogos poderíamos ter diversão a solo, neste é quase essencial o modo cooperativo.

O multiplayer continua divertido e competitivo
A campanha tem uma duração de cerca de 6-7 horas. Alguns acharão pouco, mas a maioria não terá vontade de a repetir, a não ser para passar no Insane e desbloquear alguns Achievements. Depois disso, têm ainda um modo online com várias novidades, sobretudo o novo modo Overrun que vem substituir o Horde - agora cada jogador escolhe a sua classe (engenheiro, sniper, médico, suporte) com habilidades e armas próprias, e a equipa tem a função de defender um determinado ponto dos Locust. Infelizmente, o sistema de comprar upgrades e outras coisas de Gears of War 3 foi eliminado; o próprio jogador é que tem agora uma função específica dentro deste modo.

Gears of War: Judgment é sem dúvida recomendado para todos os fãs da série. O problema é que muita gente já está a pensar na próxima geração e este título vem a jeito de despedida, uma espécie de demonstração final da consola, privilegiando a diversão da mecânica do jogo sem se preocupar muito com o enredo. É sem dúvida um excelente jogo, mas, mesmo apesar de trazer o primeiro Gears of War como bónus, não sei se vale o preço completo.

A secção do "Desembarque na Normandia" é das melhores do jogo



Apesar de serem idênticos aos de Gears of War 3, continuam a ser dos melhores que a Xbox 360 pode dar. Deslumbrante em todos os níveis, salas e secções. O Unreal Engine 3.5 mostra que uma consola com 7 anos em cima ainda tem a capacidade de surpreender visualmente.



Vários dos elementos característicos da série dissiparam-se para dar lugar a um jogo mais movimentado e focado para o combate. Judgment preocupa-se sobretudo em privilegiar a mecânica arcade divertida do que propriamente criar um enredo emblemático e de tensão à sua volta. Alguns ficarão agradados com esta abordagem descomprometida, outros irão odiar.


A trilha sonora, bem como os actores que emprestas as vozes às personagens, continuam a ser de excelência, algo que a Epic Games sempre se preocupou muito em trazer. Os efeitos ambientais também estão bem conseguidos.



É o jogo mais curto, linear e repetitivo da série. Preocuparam-se em variar (trazendo até elementos do multiplayer para dentro da campanha), mas a verdade é que Gears of War não precisa de ser diversificado mas sim de um mote por detrás, e a abordagem mais descomprometida traz algumas consequências no que toca ao carisma que sentimos pelo jogo. De resto, têm ainda o multijogador que trará com certeza horas e horas de diversão.




Judgment continua a ser sem dúvida um Gears of War. É portanto, recomendado para todos os fãs da série, mas com certeza não será por aqui que os novatos deverão começar. A essência continua lá, mas é abordada de uma maneira muito mais descomprometida e sem se preocupar tanto em tornar este jogo na obra-prima que foram os anteriores. Para todos os efeitos, é um excelente jogo.



Esta análise foi escrita em conjunto com o nosso adviser Daniel Rocha.



0 comentários:

Enviar um comentário

Mensagens Recentes Mensagens Antigas Página Inicial