O estado dos videojogos e da televisão em Portugal



CRÓNICAS



Nem sei bem por onde pegar num assunto tão "polémico" para nós, jogadores, como este. Julgo ser do conhecimento geral que Portugal não é dos país que mais acolhe abertamente os videojogos, e as consequências são o absurdo dos preços e das mentalidades. Se no estrangeiro, especialmente nos países mais desenvolvidos (como Estados Unidos, Inglaterra, etc.), os jogos já começam a ser considerados como arte, a par do cinema, literatura, etc., em Portugal ainda há um misticismo e desprezo enorme por estas formas de entretenimento.

Lembro-me que até há uns tempos atrás (muito recentemente), Portugal era o país da PlayStation. Cá pouco se jogava, mas o que se jogava era PlayStation. Nas lojas, a consola da Sony ocupava quase todas as prateleiras e a que sobrava era repartida por entre as restantes plataformas. Felizmente, hoje em dia o cenário começa a ser diferente, não só devido ao esforço destas companhias em Portugal, como há sensibilização mundial para a temática dos videojogos.

A verdade é que a grande parte da população "crescida" nacional vê os jogos como uma forma de entretenimento para crianças. Passar duas ou três horas por dia ligado a uma consola é algo repugnante e a evitar a todo o custo. Por outro lado, ver duas ou três novelas seguidas (de enredo perfeitamente absurdo, diga-se de passagem) é um hábito rotineiro perfeitamente normal. Os videojogos estimulam muito mais o cérebro que qualquer novela, programa da manhã, telejornal, concurso de cantores que passa em horário nobre. A televisão é feita para a massa manipulável que é o povo e tem o objectivo de agarrar audiências que facilmente se interessam por coisas perfeitamente desinteressantes, como coscuvilhices, mediatismos e outros relacionados. Os programas líderes de audiência, como a Casa dos Segredos, são programas desprovidos de qualquer interesse para o progresso nacional e para o auto-aperfeiçoamento próprio. No entanto, as pessoas adoram e falam.


Por outro lado, os jogos se quiserem ter sucesso têm que agarrar verdadeiramente o público. E nem de perto da maneira que a TV o faz. Todos os jogadores que se prezem sabem distinguir um bom jogo pelo seu enredo interessante, jogabilidade bem construída e uma experiência global de satisfação. Hoje em dia, qualquer jogo tem uma história mais interessante que qualquer enredo de novela. Os jogos têm críticos que os analisam e formulam a opinião para o que o público possa decidir se compra o título ou não. Já a televisão é uma guerra violenta e sem moral por caça às audiências, desprovida de qualquer regras ou críticas.

Se nos videojogos aparecer uma pinga de nudismo, aparecem milhares de pais a quererem processar a produtora do jogo em questão. Mas se na novela das 21h a Maria Amélia mostrar os seios numa cena de sexo, é perfeitamente admissível e natural.

Os jogos são criticados por manipularem os miúdos a tomarem acções violentas. Primeiro que tudo, asseguro que nenhum jogo tem o poder manipulativo que um programa de televisão tem e, portanto, duvido seriamente que alguma vez a causa de violência seja um videojogo. Mas, mesmo que seja, os jogos têm uma classificação etária e se esses miúdos estão a jogar jogos que não devem ainda, a culpa é dos pais por lhe comprarem jogos assim.


Se já faz parte da tradição nacional ter uma TV em casa e usufruir dela todos os dias, ainda vamos ter que esperar alguns anos até que os videojogos possam tomar o seu lugar ao lado das televisões, livros, cinema e outras formas de arte. O medo do "vício" que tantas vezes é usado como argumento pelos mais velhos não deve ser um entrave para que isto se concretize. Há vícios bem piores e menos saudáveis que as pessoas não costumam discutir porque simplesmente não lhes convém. Porque lhes mancha o estatuto de "gente crescida".
A verdade, é que a maior parte das pessoas que criticam o mundo dos jogos nunca pegou num comando na vida e não sabe do que fala. Deste modo, fica fácil criticar algo que não conhecemos, bem à maneira que a TV nos ensinou.

Por isso, caros companheiros gamers, não se deixem afectar por críticas desprovidas de nexo. Dêm tempo à sociedade de eliminar os (muitos) preconceitos que ainda prevalecem e pode ser que talvez um dia possamos expor com orgulho a nossa paixão ao mundo, sem receio de sermos etiquetados ou desprezados por isso.



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