A comunidade de videojogos



CRÓNICAS



Confesso que já há muito tempo que andava para escrever esta crónica, expressar o que sinto acerca de um tema em especial e que acredito ser muito mal julgado aos olhos de pessoas mal-informadas.

Vou começar por pegar num exemplo recente: Grand Theft Auto 5. Este título da Rockstar, para quem não sabe, facturou 1000$ Milhões nos primeiros três dias de lançamento, tornando-o no produto de entretenimento a vender mais rápido. Nenhum filme atingiu este número em tão pouco tempo.

Contudo, as mentes mais fechadas continuam a achar que os videojogos são para o público menor e são a raiz de vários males no mundo. A verdade é em todos os saltos tecnológicos há um embate entre a geração mais "adulta" e a mais jovem. Quando a televisão começou a chegar às casas das pessoas, muita gente tinha medo do que poderia fazer ao nosso cérebro. E não só com a televisão, também ao longo de toda a história da humanidade: cinema, rádio e até livros.

E hoje em dia passa-se algo semelhante com a indústria dos videojogos: os nossos pais têm medo do que os jogos possam fazer ou influenciar, mas acredito que o paradigma está a mudar há medida que nós, jovens jogadores, crescemos e moldamos a nossa sociedade. E tenho esperança sinceramente que nos próximos anos possamos assistir a um crescimento muito forte e positivo da nossa amada indústria.


Mas o que queria mesmo falar nesta crónica era sobre a comunidade dos jogos em si. Quem não acha fantástico aquelas horas que passamos no recreio com os nossos amigos, falando sobre um jogo que acabou de sair, um boss que acabaram de passar, uma emoção que acabaram de sentir?

Quando a comunidade de pessoas "reais" não nos aceita porque não somos suficientemente "fixes", populares ou bonitos, a comunidade de gamers recebe-nos de braços abertos. Porque para jogar um jogo não interessa se somos gordos, magros, altos, ricos ou pobres. Os videojogos não ligam ao nosso estatuto social. A partir do momento em que inserimos aquele disco na consola, somos todos iguais. A única coisa que interessa é a nossa skill, habilidade, e é isso que os outros jogadores avaliarão em nós.

Mas desde quando é assim no mundo real? Desde quando uma pessoa com sucesso chegou onde chegou apenas com o seu trabalho árduo? Claro que existem casos assim, mas são casos muito raros! A maior parte dos "famosos" e ricos que vemos na televisão, por exemplo, são conhecidos de alguém, filhos ou sobrinhos de alguém. É um mar de cunhas que exclui à nascença todos aqueles que têm verdadeiro talento.

Já no mundo competitivo dos videojogos, não vi até hoje nenhuma equipa internacional ou nacional que tenha ganho um campeonato por cunhas. Nenhum dos jogadores profissionais é modelo ou actor e muitos deles vivem uma vida difícil em termos monetários. Nós continuamos a apoiar as nossas equipas favoritas, seja de Call of Duty, Counter-Strike, League of Legends, etc., pela sua maneira de jogar e não pelo que eles são na sua vida pessoal.


Se na vida real não podemos ter às vezes o sucesso que queríamos por falta de oportunidade, podemos chegar a casa e singrar nos campos de batalha multijogador ou simplesmente ser uma personagem fictícia por algumas horas no modo história de um jogo qualquer. Podemos ser alguém que sabemos que nunca seremos, e viver esse papel como se fizéssemos parte da sua vida.

Então porquê criticar este lado dos videojogos? Porquê criticar este "vício", esta oportunidade de sermos alguém diferente por algumas horas? Só porque no mundo real não conseguimos atingir muitas vezes os nossos objectivos? Uma coisa não é a consequência da outra, e a possibilidade de vivermos uma história diferente (tal como quando lemos um livro ou vemos um filme) torna-nos mais humanos em termos de experiência. Não somos jogadores porque escolhemos não ter uma vida, mas sim porque escolhemos ter várias.

Claro que, como em todas as comunidades, nós também temos os nossos podres. Já todos ouvimos várias vezes insultos a vários níveis só porque a equipa adversária está a perder. Em todas as comunidades de cada jogo, há uma percentagem de jogadores que simplesmente não suporta perder.

Mas não são eles que nos representam. Somos nós. Nós, que passamos a palavra no recreio sobre um jogo, que acompanhamos com paixão as novidades da indústria, que não ligamos às críticas da população ignorante sobre este mundo, que apoiamos as nossas equipas favoritas, e que todos os dias podemos ser alguém diferente por umas horas.

Quando algum comentador ataca publicamente a nossa indústria, unimo-nos todos para retaliar, para mostrar a nossa força, para provar a nossa união. Mesmo quando alguém nos critica por adorarmos isto, sentimos orgulho na nossa paixão e não nos conseguem deitar abaixo.

Ao longo da última década temos conseguido constantemente provar que também nós somos capazes de coisas brilhantes e fantásticas. Os jogos têm ajudado no campo da medicina, educação, recuperação motora, desenvolvimento tecnológico, e muitos outros. Os gamers são os primeiros a angariar fundos online para solidariedade, os primeiros a assinar petições e a passar a palavra, os primeiros a unirem-se em prol de um objectivo comum.

A nossa comunidade é excelente e já provou ser maior e mais unida que qualquer outra indústria de entretenimento. A mensagem que vos deixo é a de união e compaixão, a mesma que sempre tem recebido novos jogadores de braços abertos, independentemente da sua aparência ou estatuto social.

Não importam as divergências, nacionalidades, crenças religiosas, opiniões políticas ou clubes de futebol. Somos todos um só.



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