Corro atrás de Correntes
Tudo se passou
naquele dia, na areia. Em que estava algemado às rochas e os olhos tinha-os fechados
por causa do frio, e do sal do mar. A praia estava vazia, branca do gelo, e
escura por causa do mar. “Um dia vou pensar em pôr-me de pé e ir nadar. Pode
ser que passe alguém, e me cumprimente como se fosse gente”. Mas o escuro não
me fala a mim, nem respira. Não faz mais nada, se não fazer-me companhia. Se
calhar lá no fundo do mar, sabes? Se calhar lá é mais tranquilo, mais calmo.
Pode ser que um dia alguém passe por cá e me dê umas festas na cabeça.
Mas não. Não
sou ninguém, não sou nada, nunca fui! Corro atrás de correntes, é verdade. Que
infiel que sou! Digo isso a mim mesmo e ainda assim, vejo-me quieto, imóvel,
parado e preso neste rochedo com a fuça carrancuda. “Que pobre coitado” pensam
os limos e as conchas, aqueles que me notam, se é que pensam alguma coisa, se é
que me notam sequer... Que olhavam a chuva e a neve que caíam por ali? Que não fosse
paixão ou que não seja o fim?!
Será que foi o
que quis dizer? Ou que quero correr atrás de marés. Ou que talvez tenho cobiça
do oceano também, que nunca cai nem tropeça nem finge que é outra coisa que não
ele mesmo. Por poder sentar-se, continuar atado pelos pulsos e arrastar essas
prisões para onde vai.
Corro atrás de
correntes, corro… mas estou amarrado, ainda, para poder dizer que saí ao mundo com
vontade de ser visto. De ser visto pelas brisas que passam por mim e não dizem
nada. Cheio de tudo e de nada, eu ainda não me mexi, nem sofri, nem mudei, nem
deixei de correr.
Corro atrás de
correntes, não corro atrás de marés!
André Crispim
Categoria:
Página Branca
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2 comentários:
Oh pa, tu devias ser escritor!
Continua a correr. E a escrever...
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