Crónica 11: Portátil, mas pouco.



CRÓNICAS



Esta nova geração viu o nascimento de uma nova realidade: os jogos para telemóvel. O nascimento do iPhone e, mais tarde, dos telemóveis Android trouxe muitos não-jogadores ao fantástico mundo do casual gaming. Estatisticamente, é fácil entender o quão grande é este fenómeno. E até nas nossas vidas do quotidiano é verificável quanto a demografia do jogador se modificou. A minha casa passou de dois, ocasionalmente três jogadores em sete pessoas, para cinco. O meu pai passa horas a jogar Sudoku no seu iPhone e a minha mãe ficou completamente viciada num jogo no iPad. A pergunta que se faz é: será que estes novos dispositivos podem substituir, para um público menos casual, as habituais consolas portáteis?

A Nintendo, para mim, sempre foi sinónimo de uma coisa: Game Boy. Lembro-me de ter recebido pelo natal o antigo Game Boy Color e ter delirado com Pokemon Yellow. Anos mais tarde, também fui presenteado com um Game Boy Advance SP. Quantas horas não deixei nestas duas consolas? Nos três jogos de Pokemon que joguei, Yellow, Silver e Fire Red devo ter queimado mais de 200 horas. E noutros jogos, como Sonic Advance e Wario Land II mais umas quantas. Depois, com a chegada da Nintendo DS e da PSP, recebi a consola da Sony. E ela lá está, a ganhar pó na prateleira.


Poucas horas de jogo devo ter tido na portátil da companhia japonesa, antes de esta ter cometido suicídio. Mas a verdade é que já tive algumas oportunidades para a trocar, mas sempre adiei porque o meu interesse pelo catálogo da PSP é bem menor do que o que tinha nas minhas outras portáteis. E também é verdade que pouco me interessam as novas consolas, quer a Vita quer a 3DS. Isto porque recentemente tive a hipótese de ter aquela que considero a minha quarta consola portátil, o iPhone. Já joguei muito, e tudo a custo zero (ainda não fiz nenhuma compra na Apple Store). Entre demos bastante substanciais de TripleTown e Angry Bird, e jogos inteiros grátis como Jetpack Joyride, iSlash e Tiny Heroes, sinto que tenho em minha posse um sucessor espiritual dos Game Boys. Passo a explicar.

Lembram-se o quão fácil era pegar no Game Boy no meio do recreio e passar os 15 minutos em que supostamente estaríamos a ter a nossa dose diária de interação social com os nossos amigos? Isto é, o catálogo do Game Boy tinha alguns jogos que requeriam mais alguma paciência e calma para jogar, mas de resto, a maior parte dos jogos eram portáveis. O que os anglófonos chamam de pick up and play. Pegar e jogar. O que hoje em dia conotamos de forma negativa chamado de jogos casuais, qualquer jogo que não requeira grandes compromissos por parte do jogador. Mas não são só os jogos casuais que são portáveis. Um exemplo de um jogo que seria perfeito para uma plataforma portável é Super Meat Boy, que é conhecido pela sua dificuldades e os seus níveis pequenos, não fosse a precisão necessária para se jogar o jogo da Team Meat apenas encontrada um teclado ou num comando a sério. 


De certa forma, acho que o que uma consola portátil deve ser é uma velhinha máquina de arcadas no nosso bolso. Com jogos difíceis, desenhados para serem jogados em pouco tempo, mas que são como pedaços compatos de adrenalina que nos fazem querer voltar a jogar. É isso que são os muito populares jogos que se encontram nas lojas da Apple e Android, os endless runners. Jogos que não têm um objetivo final, com níveis que são gerados aleatoriamente, e com um nível de dificuldade progressivamente elevado, chegando a um ponto da quase impossibilidade. Jogos populares deste género são o Jetpack Joyride e o Temple Run, ambos jogos grátis. 

Se formos ver, em termos de preço, comparando um iPhone 4S / Samsung Galaxy II com as novas Playstation Vita / 3DS é fácil entender a discrepância de preços entre os dois. Mas não nos podemos esquecer que os primeiros são telemóveis maioritariamente, e são capazes de, imagine-se, efetuar chamadas e enviar mensagens de texto, coisa que acho bastante conveniente. Depois, vêm com um sem número de Apps que não são de jogos que não encontraremos em qualquer consola, e que podem dar jeito para alguns. E falando dos jogos, é possível (e eu sou um caso disso), ter grandes experiências video-jogaveis sem nunca ter gasto um tostão nos jogos (e sim, sem requerer a meios ilícitos). Enquanto que um jogo na Vita pode rondar os 50 euros novo, e na 3DS cerca de 40. Se pensarmos que cada um de nós compra em média 10 jogos para cada sistema que possui, podemos rapidamente ver a balança a tornar-se contra nós no que toca a preços.


Onde quero eu chegar com isto tudo, pergunta o leitor com gostos refinados? A verdade é que, para mim, o iPhone já substitui qualquer consola da Nintendo ou Sony. Claro, eu gostava de ter a possibilidade de jogar Uncharted enquanto estou na fila da cantina, mas será que realmente quero jogar? Jogos deste tipo requerem atenção, empenho. Coisa que não quero ter como pré-requisito num jogo duma portátil. Este tipo de jogos devem ter como objetivo preencher no máximo 20 minutos da vida do jogador de cada vez, não trazer o próximo BioShock no meu bolso.



0 comentários:

Enviar um comentário

Mensagens Recentes Mensagens Antigas Página Inicial