Crónica 15: Spike's Video Game Awards



CRÓNICAS




Há alturas do ano em que todos nós ficamos um bocado mais excitados, porque é nessa altura que sabemos mais informações sobre os nossos jogos mais esperados, e também tomamos conhecimento de novos jogos que nos entreterão num futuro próximo. Falo de espetáculos como a E3, onde podemos espreitar o que raio vai na cabeça das três grandes produtoras de hardware, e possivelmente que jogos poderemos comprar. Outro espetáculo que tem vindo a crescer em termos de importância são os Video Game Awards da Spike TV, uma televisão por cabo norte-americana. Mas há que lembrar que os VGA são mais do que os trailers dos novos jogos, são também uma entrega de prémios. 

Muita gente já apelidou os VGA de Óscares dos videojogos  e vejo que cada vez mais os jogadores tomam os prémios atribuídos na gala como os derradeiros galardões que determinam afinal qual o melhor jogo do ano. No entanto, custa-me a acreditar que hajam realmente pessoas que levem o espetáculo montado pela Spike a sério. Este ano, assisti novamente à atribuição dos prémios e deparei-me novamente com um festival que de credível tem muito pouco. Afinal, quais são as características essenciais de uma entrega de prémios que se quer tornar a “cara” da indústria?

Sendo que já enunciei a comparação tantas vezes feita entre os Spike Video Game Awards e os Academy Awards (conhecidos entre nós por Óscares), vou tomar como ponto de partida a gala que se realiza todos os anos em Los Angeles. Devo dizer que na minha opinião, até os Óscares têm graves problemas de independência, mas mesmo assim, é um bom ponto de partida se desejamos, como meio artístico, selecionar o melhor que é feito na indústria.


Primeiro de tudo, é preciso ver que os VGA são mais uma enorme campanha de marketing para os publicadores dos jogos do que propriamente uma entrega de prémios. Se não viram a apresentação por completa, pelo menos já viram uma boa parte dos trailers que foram apresentados. Uma entrega de prémios nunca pode ter como principal e único objetivo ser um grande anúncio comercial à indústria que está a ser premiada. Os Óscares têm como efeito secundário ajudarem as produtoras a vender os seus filmes e promover cinema como meio artístico, pelo prestígio que vem com a conquista de um Óscar e pelos filmes que são lançados com o intuito de serem premiados e que têm mais alguma profundidade do que os blockbusters de verão que Hollywood lança todos os anos.

Depois, é preciso ver quem é que apresenta os VGA. Este ano estiveram presentes Samuel L. Jackson, Jessica Alba, o cast da série televisiva da AMC “The Walking Dead”, entre outros. Todos estes são pessoas que vêm de fora da indústria e que pouco conhecimento têm sobre videojogos. Aliás, até o guião parece ter sido escrito por pessoas que não têm qualquer interesse sobre o que se passa na indústria. Ouvem-se comparações entre Dark Souls e Super Mario, assim como a habitual menção a uma suposta cultura nerd, como se toda a gente que pegasse num comando fosse subitamente um grande totó dos computadores (talvez a última seja também sequela de que, subitamente, é fixe ser-se nerd na cultura ocidental).

A pergunta que faço é: não há pessoas dentro da indústria que tenham a capacidade de apresentar uma cerimónia sobre videojogos? Claro que há, e certamente que todos nós teremos as nossas pessoas favoritas para o cargo. Afinal, tudo o que é preciso é algum carisma e saber-se decorar algumas falas. Por muito que eu goste do Samuel L. Jackson e de olhar para a cara bonita da Jessica Alba, pergunto-me o quanto realmente sabem sobre um videojogo.


Então e quem é que atribui os prémios nos VGA? Os jogadores, através de uma votação no site do evento. Pode parecer uma boa ideia ser o público a escolher qual o seu jogo favorito, mas rapidamente se entende como isto pode prejudicar a legitimidade dos vencedores. É fácil ver que há um setor demográfico da nossa comunidade que não se comporta da maneira mais sensata e correta. Basta jogar-se um jogo online onde haja chat por voz ou por texto para entender que talvez haja pessoas que não merecem ter uma voz sobre quais são os melhores jogos do ano.

Para além disso, quem é que nunca se deparou com uma discussão sobre o porquê de uma plataforma ser melhor que a outra (as famosas “console wars”, que terão direito a uma crónica específica)? Mais, gostava de saber quantos leitores jogaram todos os jogos de todas as categorias. Eu nem joguei todos os jogos na categoria de melhor jogo! Muitas das vezes o vencedor resume-se ao jogo que mais vendeu, porque os jogadores votam no jogo que compraram. É preciso ter um comité de dentro da indústria que tenha legitimidade e conhecimento para escolher os vencedores.

Além de tudo isto, até os nomeados são os jogos que mais vendem. A presença dos jogos indie ou em plataformas móveis é insignificante, e fora das suas próprias categorias então é que nem vê-los. No ano de 2012 o mercado dos videojogos é diferente de há 10 anos para cá. A cena indie e móvel tem muito mais expressão e reconhecimento e é uma palermice não se dar o tempo de antena às produtoras que não lançam grandes blockbusters.


A verdade é que os VGA não são mais do que uma festa enorme, uma enorme campanha publicitária mascarada de entrega de prémios. É fácil entender porquê, e não vejo nenhum mal num evento como este existir. Mas se queremos construir uma imagem de marca de excelência que no futuro nos trará melhores jogos, temos de deixar de tratar os VGA como os nossos Óscares. Temos, como comunidade, de nos virar para eventos como o Interactive Achievement Awards que tem lugar na D.I.C.E. Summit e o Developers Choice Awards apresentado todos os anos na GDC. Com um pouco mais de visibilidade, estas entregas de prémios têm o potencial de se tornar o evento que a indústria precisa. Por isso, convido-vos a assistir este ano aos dois, e a passar a palavra!

Juntem-se à comunidade Steam do Gamer Source!



0 comentários:

Enviar um comentário

Mensagens Recentes Mensagens Antigas Página Inicial