Crónica 16: Steam Box



CRÓNICAS



Encontramo-nos numa altura crítica na indústria dos vídeojogos. As consolas caseiras que nos têm acompanhado durante os últimos quase sete anos estão a dar as últimas, e em termos de hardware estão muito aquém do que aquilo que encontramos nos computadores. É notória e visível a diferença de grafismo entre o pináculo do gaming nas consolas e um jogo de computador mais vistoso e há muito que os jogadores pedem  que a nova geração chegue. E mesmo as próximas consolas não prometem espantar no que toca ao poder gráfico. A Wii U, a primeira consola caseira de oitava geração é equiparável à Xbox 360 e até as próximas consolas da Sony e da Microsoft são prováveis de ter componentes encontrados em computadores medianos para cortar nos custos de produção.

Eu sempre fui jogador de consolas. Desde a Dreamcast até à minha PlayStation 3, sempre gostei de consolas e continuo a gostar. Gosto da comodidade de poder jogar jogos na minha sala otimizados para a utilização de controladores, de saber que qualquer jogo que compre para qualquer uma das minhas consolas irá correr no máximo possível na plataforma e gosto também de ter um aparelho dedicado para os vídeojogos (e para o ocasional DVD e mais recentemente Blu-Ray). No entanto, há muitas vantagens de atualmente jogar num computador pessoal. Os preços reduzidos de plataformas de distribuição, como a Good old Games, Origin e Steam, a inerente facilidade de obtenção dos mesmos e os jogos indie que muitas vezes são exclusivos ao computador  são todos pontos que se podem levantar para se defender o gaming no PC, sem ser necessário falar da óbvia capacidade superior de processamento. Aliás, tenho de dizer que há muito tempo que desejo passar para o outro lado da trincheira, que desejo ser um jogador de computador e não um jogador de consolas.

No entanto, a transição sempre me pareceu algo difícil. Não nos encontramos em tempos particularmente prósperos e o problema monetário sempre foi dos mais importantes. Especialmente em 2013, que será um ano difícil a níveis económicos para mim, quer pelo panorama nacional, quer pela minha eminente entrada para o ensino superior que acarreta sempre grandes custos. Claro que seria me possível poupar muito e bom dinheiro construindo uma máquina por peças, mas infelizmente, e talvez fruto do meu historial como jogador de consolas, falta-me o savoir-faire, e uma preguiça que sempre me atormentou durante a minha curta vida impede-me de pesquisar mais sobre o assunto. E sim, ter de deixar a sala de estar também é um pensamento que me atormenta.


Em Dezembro, o software de venda de jogos online da Valve, a Steam, lançou o Big Picture mode, um modo especialmente desenhado para ser utilizado na sala de estar, com uma interface concebida para ser fácil de utilizar todas as funcionalidades presentes na Steam através de um comando. É um passo interessante por parte da Valve para entrar na guerra da sala de estar, no entanto, o que realmente é interessante é o novo conceito de Steam Box. Para quem não tem andado particularmente atento às notícias, a Valve está a trabalhar em hardware, uma espécie de um casamento entre um computador e uma consola, que pode ser utilizada numa televisão e não só, que trará como sistema operativo o Linux e possivelmente a Steam instalada.

Numa altura em que a Microsoft lança o seu ecossistema mais fechado de sempre, o Windows 8, que o patrão da Valve Gabe Newell já disse ser catastrófico, a Valve pode ter como intenção fugir a sistemas operativos como o da Microsft e da Apple em que tem de competir com apps que já vêm instaladas nos computadores, ficando assim no centro de um ecossistema de gaming totalmente novo, um pouco como o que a Google fez com o Android.





O que significa isto? Com o lançamento da sua Steam Box, que pode acontecer já este ano, a Valve lança um hardware-base optimizado para gaming com o seu próprio software. Enquanto que a Valve pode lançar um sistema que fará com que as coisas comecem a andar, o objetivo não será propriamente vender hardware, mas disponibilizar o software, e ultimamente, os jogos, para todas as empresas que queiram fazer a sua própria Steam Box. E a verdade é que já começam a ser lançadas notícias de empresas que querem também participar, como é exemplo a Xi3, que já anunciou o seu hardware que foi semi-fundado pela Valve, de nome de código Piston, da Nvidia, que através da sua plataforma portátil "Shield" com conexão à Steam e ao seu modo Big Picture poderá ser utilizado numa televisão, através de uma espécie stream pessoal e particular, e da Alienware.

Mas se se quer ter ter uma grande presença na sala de estar é preciso ter-se também bons periféricos. Numa entrevista muito interessante ao site Verge, Newell falou no recente interesse da Valve em periféricos, e como a empresa prefere utilizar dados biométricos do que o movimento para os seus jogos, e também como está a trabalhar em comandos que lêem a pulsação e o movimento dos olhos. Já para não falar no apoio da Valve ao Oculus Rift, um aparelho de RV que foi recentemente alvo de uma campanha no site Kickstarter e fundado com sucesso. 

Em termos de hardware, parece estar tudo correto, mas estamos a falar de jogos construídos para serem jogados num computador, com teclado e rato. Uma consola é tão boa quanto o seu software e o mesmo acontece com as futuras Steam Boxes, que têm a vantagem de terem uma biblioteca tão grande quanto a biblioteca de jogos presentes na Steam. Porém, quantos desses jogos têm suporte para controladores, e quantos dos quais não perdem muito em termos de jogabilidade?

E apesar de este ser um sistema optimizado para gaming, perdendo-se componentes que não são necessários num computador "normal", a parte monetária continua a ser bastante pesada. O Piston, da Xi3, terá um preço que rondará os novecentos e noventa e nove dólares, ou seja, cerca de setecentos e cinquenta euros. Sendo que as novas consolas terão preços certamente inferiores, visto que a Sony perdeu muito por ter lançado uma máquina tão cara inicialmente, até que ponto valerá a pena investir em algo como o Piston? Claro que depende também do que as empresas decidirem lançar, sendo que é definitivamente possível o lançamento de Steam Boxes low cost, com componentes mais fracas, que podem ser uma solução muito interessante para jogadores que não têm grande poder económico.

Esperar para ver, é esse o cliché com que acabo mais uma crónica. É sempre preciso ser céticos no que toca a novos hardwares e softwares, mas a verdade é que há muito potencial para se criar mais uma excitante maneira de jogarmos os nossos jogos. O ano que começou avizinha-se dos mais interessantes para a indústria, com o lançamento de máquinas como a Ouya, o eminente anúncio de novas consolas por parte da Sony e da Microsft e claro, de novas notícias sobre a Steam Box. Aproveito para deixar nesta minha primeira crónica do ano desejos de bom ano a todos os leitores que me seguiram em 2012. 



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