Crónica 17: Assassin's Cry



CRÓNICAS



O ano transacto de 2012 foi em cheio para a Ubisoft. Com um intervalo de apenas um mês, a produtora francesa lançou dois esperados blockbusters, e os dois com grande sucesso quer crítico, quer monetário. Falo, claro está, de Assassin's Creed III e Far Cry 3, duas sequelas amplamente esperadas de franchises conhecidos. Ambos foram produzidas por equipas dentro da Ubisoft Montréal, e é difícil não comparar os dois. Ambos são mundos abertos, ambos têm elementos de stealth e ambos têm como atividade secundária a caça de animais selvagens.

Uma pergunta que se pode levantar é, afinal, qual é o melhor jogo? Recentemente comecei a jogar Far Cry 3, sendo que tenho atualmente mais de 9 horas de jogo e quanto a Assassin's Creed III, foi a segunda análise que redigi para o site, e tenho quase 20 horas de jogo. Não o completei a 100% porque raramente o faço, mas mesmo assim, passei várias horas quer a jogar a campanha principal, quer em missões secundárias. Vejamos então alguns dos elementos dos dois jogos, comparando-os qualitativamente.

Podemos começar pelo combate. Assassin's Creed III é um jogo em que vestimos a pele de um assassino matreiro, que tenta matar os seus inimigos de forma discreta. No entanto, o gameplay não transmite isso. É possível deixar triliões de cadáveres aos nossos pés, atacando os inimigos em campo aberto, inimigos esses que não parecem ter qualquer interesse na sua própria segurança. O combate usualmente decorre da seguinte maneira: o jogador esconde-se e tenta identificar os padrões de movimento dos inimigos, e tenta eliminá-los um a um.



Isto, se o jogador não for detetado, porque mal isto acontece, o caos instala-se e é possível que Connor (o protagonista) seja ladeado por sete ou oito inimigos. E aí é que começam a surgir os problemas. O combate é simples, bastando pressionar botões de acordo com a cor do indicador por cima do inimigo para se ter grandes séries de mortes. Isto vai contra toda a premissa do jogo, em que devíamos jogar de forma discreta e sem criar grandes alaridos. É possível jogar de modo stealth, mas a facilidade do combate e a espectacularidade das animações quando se mata alguém encorajam a uma abordagem mais agressiva.

Depois temos Far Cry 3, um jogo em que o combate é tão diversificado quanto o jogador quiser. Tanto se pode atacar uma base pirata com granadas e tiros por todo o lado, como se pode usar uma abordagem bem mais reservada, um pouco ao estilo de Assassin's Creed III. A diferença está no incentivo dado ao jogador. Todas as mecânicas do jogo apontam para um gameplay mais stealth do que o outro jogo da Ubisoft. Em Far Cry 3, como em AC: III, para libertar uma certa zona do domínio do inimigo é preciso atacar um acampamento adversário. Dentro destes campos há alarmes que, quando ativados, fazem aparecer novas unidades inimigas.

Se Jason (protagonista de Far Cry 3) atacar diretamente o acampamento, muito provavelmente um pirata ativará o alarme e assim mais difícil tornará o trabalho de eliminar os hostis  O alarme, porém, pode ser desativado, mas para isso é preciso chegar ao pé de um dos pontos de controlo, que se encontram muitas vezes ao pé de inimigos. O jogador também têm uma série de instrumentos ao seu alcance para matar sem ser detetado. Aliado a silenciadores para as armas e à possibilidade de se matar sigilosamente com uma faca, está a máquina fotográfica.



Sim, uma simples máquina fotográfica, que é utilizada para se marcar os inimigos e seguir assim o seu movimento. Também é possível atirar-se uma pedra para distrair os inimigos piratas para um certo local, sendo que o jogador pode assim ludibriá-los. Mas todas estas mecânicas não teriam sentido se não houvesse uma motivação para as utilizar. E a motivação encontra-se nos pontos de experiência ganhos ao eliminar-se um acampamento sem ligar nenhum alarme. Pontos esses que depois podem ser utilizados para adquirir novas habilidades como mais hit points, entre outros.

Far Cry 3, um FPS na sua génese, é um jogo mais stealthy que Assassin's Creed III.

Não basta um jogo parecer algo. Todas as suas mecânicas têm de ir ao encontro da sua estética, do que pretende transmitir, e neste caso, AC:III é um grande imbróglio, não se conseguindo decidir entre um jogo de assassinos mordazes ou barulhentos.

Passemos então à parte da caça, uma das grandes adições de AC:III. Esta é talvez a parte em que é preciso utilizar mais a discrição na abordagem ao adversário. O jogador tem consigo um grande arsenal dedicado a esta atividade, entre engodos e armadilhas podemos também encontrar os rastos dos animais. Como disse na minha análise, a caça é uma adição interessante, mas o uso de quick time events (QTEs) quando Connor é detetado tiram alguma da tensão de matar um lobo. E novamente, não há grande incentivo em ir caçar, sendo que a única coisa que se pode fazer com os espólios é vendê-los, e sendo que os jogos da série são conhecidos por terem uma economia quebrada, onde é possível juntar grandes quantidades de dinheiro, este incentivo é parco.



Em Far Cry 3, por outro lado, a caça é quase fundamental. Com os espólios é possível aumentar a quantidade de dinheiro, de armas, granadas, entre outros, que se pode transportar. Comparativamente a AC:III, a ação furtiva é muito menor, sendo que é muito mais divertido matar um monte de dragões de komodo com um RPG, e não há nenhum objeto específico para a caça, mas não deixa de ser tão ou mais divertida da que encontramos na pele de Conor. Os QTEs também aparecem, porém são muito menos comuns. Isto pode-se dever um bocado ao facto de Far Cry ser um FPS, e ser muito mais fácil a nível de design, mas mesmo assim, a verdade é que o encontro com um urso em Far Cry é muito mais emocionante do que em AC.

Qual é o melhor jogo? Para mim, e objetivamente, é Far Cry. A história é menos confusa, o mundo parece muito mais aberto e todas as mecânicas têm um sentido e nota-se que é um jogo muito bem pensado. Claro que Assassin's Creed: III é um épico com ligações a acontecimentos reais e interessantes, mas Far Cry é muito menos presunçoso. Sabe o que é, é um vídeo-jogo. Tem, como é óbvio, momentos cinematográficos, mas parece, como um todo, e passe-se a redundância, muito mais jogo que o jogo de Connor.



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