[Análise] Sly Cooper: Thieves in Time



ANÁLISES





















O catálogo de jogos da PlayStation 2 está repleto de exclusivos de grande qualidade. Um exemplo que entra nesta categoria é a série Sly Cooper, que teve o seu primeiro jogo em 2002. Produzido pela Sucker Punch Productions, Sly Cooper and the Thievius Raccoonus é um jogo de plataformas em 3D misturado com elementos de stealth (ou acção furtiva). Depois de duas sequelas de alta qualidade, e com o nascer da nova PlayStation, a Sucker Punch partiu para um novo IP (InFamous) e Sly Cooper ficou, como série, supostamente terminado.

Isto até à E3 de 2011, onde Sly 4 foi anunciado, desta vez pela mão de outra produtora, a Sanzaru Games Inc., responsável pelo re-lançamento da trilogia original em HD e outros jogos menos relevantes. Oito anos após o lançamento de Sly 3, Sly Cooper: Thieves in Time chegou às lojas, e com ele a promessa de voltar atrás no tempo para a era da PlayStation 2 e dos grandes jogos de aventuras e plataformas como Jak and Daxter e Ratchet & Clank.

Veredicto

Por incrível que pareça, Sly Cooper é uma série com uma história bastante interessante. Sly é um guaxinim que vem de uma longa linhagem de ladrões. Com a ajuda do seu gangue (Bentley, uma tartaruga numa cadeira de rodas e o cérebro das operações, e Murray, um enorme hipopótamo cor-de-rosa que é a força bruta do grupo), Sly parte para grandes aventuras onde continua o negócio da família, o de roubar outros ladrões. Thieves in Time é o primeiro jogo da série que jogo e como tal, posso afirmar que a sua primeira cutscene explica com sucesso o que se passou nos outros jogos.

Cooper reformou-se e desfrutava agora a vida do outro lado da lei, na companhia do seu interesse amoroso de longa data, uma agente da Interpol, Carmelita Fox. Sly e Carmelita tinham uma longa história onde a agente tentava impedi-lo de concretizar os seus assaltos. A sua recente união só era possível porque ela pensava que ele tinha amnesia, o que não era verdade. No entanto, a vontade de roubar acumulava-se e Sly sabia que tinha de voltar a executar um golpe. Rapidamente descobriu um alvo, uma doninha francesa de nome Le Paradox, que aparentemente era respeitável no seu trabalho como colecionador de arte.

No entanto, Sly rapidamente descobre que Le Paradox andava a fazer milhões com vendas de antiguidades no mercado negro e portanto, estava na altura de partilhar a sua riqueza. Num dia, enquanto preparava o plano, Bentley aparece. Aparentemente, a tartaruga tinha estado a executar um projeto secreto com a sua namorada Penelope quando ela desapareceu subitamente. Mais, o famoso Thievius Raccoonus, um manual de gatunagem passado através de gerações na família Cooper estava a perder informação a olhos vistos, já que o texto estava literalmente a desvanecer.

Estava então na altura de reunir outra vez o gangue e assim Bentley foi ao encontro de Murray e Sly. A solução? Viajar no tempo, claro está! A máquina do tempo que a Bentley construiu teria apenas de utilizar um qualquer objeto do período de tempo e local para onde se pretendia viajar. E com informações do Thievius Raccoonus, o gangue sabia que tinha de viajar para o Japão Feudal. Sorte das sortes, uma espada samurai do século XVII encontrava-se na posse de Le Paradox, num museu em Paris, e com isto, começa o jogo, com a missão de roubar a doninha e salvar Penelope, acalmando os impulsos cleptomaníacos de Sly no processo.

A Arábia é um dos locais que poderemos visitar
O gangue terá assim de viajar no tempo para explorar localizações como a Inglaterra Medieval e o Velho Oeste, enquanto tenta salvar os antepassados de Sly e resolver o imbróglio que tem Paradox como principal antagonista. Uma história de viagens no tempo é sempre divertida, e o facto de se mudar de eras trás também consigo grande diversidade visual. Quanto à narrativa em si, Thieves in Time tem alguns momentos inesperados, outros nem tanto. Mas o que brilha são mesmo as personagens. O mundo é constituído por personagens antropomórficas, todas elas com um carácter divertidíssimo e interessante.

O humor também está sempre presente. Não é um jogo de se rir às gargalhadas, mas dei por mim a dar risinhos constantemente e a ficar espantado com a quantidade de personagens excêntricas. O diálogo também é acima da média, especialmente entre as personagens do gangue, e é distinguível as personalidades de cada um dos membros do bando. A história não é perfeita, e por vezes demasiado simples, mas as suas personagens singulares foram o suficiente para me apetecer continuar a presenciar o desenrolar da acção.

A nível de gameplay, Thieves in Time é um jogo com muito que fazer, sendo umas coisas mais divertidas que outras. As personagens jogáveis são os membros do gangue, Carmelita e o antepassado correspondente ao nível que se está a jogar. O núcleo duro do jogo, as secções em que se joga com Cooper, continuam a ser o ponto alto. Sly é uma espécie de Ezio Auditore versão guaxini e move-se pelo cenário graciosamente. Especialmente quando se compram todos os upgrades que vão sendo disponibilizados ao longo do jogo, jogar com Sly dá gosto, quer a nível visual, quer a nível de como o jogo funciona.

A parte de ação furtiva também é divertida, se bem que algo simplista. Para não ser detetado, Sly tem apenas de se afastar do reduzido campo de visão dos inimigos, e que muitas vezes está marcado no chão com a luz das suas lâmpadas. Quando se aproxima sem ser detetado pelas costas do adversário, o guaxinim entra automaticamente num modo stealth, andando mais devagar de modo a não fazer barulho e tendo a possibilidade de assaltar as moedas ou silenciosamente eliminá-lo. Simples, é verdade, mas eficaz, e muitas vezes necessária, já que Sly é algo fraco comparativamente aos seus adversários.

Sly é um guaxinim bastante habilidoso
O protagonista encontra também um fato por cada época que visita, sendo que estes têm algumas capacidades extras e podem ser utilizados para completar alguns puzzles ao longo do jogo ou aceder a locais anteriormente inacessíveis. Um level design de grande qualidade, com alturas em que é simplesmente brilhante, aliada a uma jogabilidade fluída que apenas é atrapalhada pelo ocasional glitch da câmara, faz com que jogar com Sly traga uma sensação espectacular de liberdade. Já os antepassados de Sly gozam de um gameplay semelhante, despido de qualquer upgrade que o jogador tenha comprado e com um ou outro poder especial.

Já Carmelita utiliza a sua pistola e o jogo torna-se num shooter em terceira pessoa. É geralmente agradável jogar com esta personagem, se bem que o seu gameplay parece algo deslocado num jogo de plataformas. Já Murray é a personagem com a jogabilidade mais fraca. O hipopótamo depende apenas dos seus músculos, e sendo que não há qualquer profundidade no sistema de combate, o jogo com Murray consiste em esmagar botões. As secções de plataforma com ele também são estranhas, já que o hipopótamo é mais pesado e consequentemente menos capaz que as outras personagens.

Bentley utiliza os propulsores na sua cadeira de rodas para atravessar o terreno, e com a ajuda de bombas destrói inimigos. Nada de fantástico, algo mediano, mas complementado por mini-jogos de hacking de três tipos. Um twin-stick shooter ao estilo de Robotron 2084 em que é preciso abrir uma porta. É uma boa distração e sendo que os níveis não são muito grandes, não aborrece. Depois, um shooter mais convencional, e o melhor dos três, este sim, uma adição interessante. Finalmente, e o mais irritante de todos, um mini-jogo onde se utiliza as funcionalidades de movimento do DualShock 3, que é completamente impreciso e uma grande frustração.

E por falar nas funcionalidades de movimento, estas também são utilizadas em alguns mini-jogos que são necessários completar durante as missões que são quase sempre frustrantes,  fruto da grande imprecisão dos controlos. Já outro tipo de mini-jogos, como um em que o jogador controla um carrinho telecomandado e outro numa galeria de tiro, são refrescantes e realmente complementam a jogabilidade. Outros no entanto, são apenas quick time events disfarçados. E pior que isto é que há alguns que se estendem pelo o que parece ser uma eternidade.

As batalhas com os bosses resumem-se à memorização dos padrões
Mas o maior ofendedor é o boss final, que não passa de um enorme QTE. Completamente imperdoável, ridículo e algo preguiçoso por parte da Sanzaru Games, especialmente porque há tanta potencialidade desperdiçada. Quanto aos outros bosses, são apenas uma questão de memorização dos seus padrões de ataque. Pessoalmente, gosto deste tipo de bosses, mas sei que há jogadores que acham este tipo de adversários arcaicos. Fica assim o jogador avisado.

Outra componente de Thieves in Time é o colecionismo. O jogo passa-se em 5 overworlds e as missões passam-se geralmente dentro de edifícios normalmente inacessíveis. Em cada overworld existem sempre 30 garrafas para colecionar, que basta tocar-lhes para as obter, assim como 15 relíquias que após encontradas é necessário transportar para o esconderijo do gangue dentro do tempo limite e sem serem danificados. Existem também símbolos do Sly espalhados quer pelas missões, quer no overworld.

Este componente está executado de forma algo arcaica, sendo que não temos qualquer indicação de onde se encontram os coleccionáveis, apenas que existe um certo número deles. Seria bom que o jogo tivesse uma funcionalidade para se marcar no mapa pelo menos os tesouros que se encontram, porque por vezes durante missões pode-se encontrar um tesouro e não há tempo para o levar ao esconderijo.

De qualquer forma, colecionar tudo é super divertido, sendo necessário utilizar muitas vezes fatos de eras que ainda não se desbloquearam para encontrar sítios secretos, o que é um grande incentivo para se voltar a eras anteriores, e as recompensas são boas. No entanto, pode ser frustrante faltar apenas uma garrafa para se completar um nível e não se ter ideia onde ela se possa encontrar. O jogo ganharia muito se fosse possível comprar mapas com os tesouros, ou pelo menos, comprar a localização de uma ou duas garrafas ou tesouros.

O gameplay com Murray é honestamente entediante
A nível de apresentação, Thieves in Time é sólido. Graficamente não é perfeito, algumas texturas vistas mais de perto são fracas, mas tomado como um todo, o jogo é bonito. Mais, como referi anteriormente, a mudança de épocas traz também muita diversidade visual, e a nível estético nota-se perfeitamente isso. O jogo tem um estilo muito próprio, com um cell shading vistoso e um ar algo cartoonizado, que é deveras atraente. Há também algumas secções que são nitidamente melhores que outras, com cenários grandiosos e bonitos contrastando com outros mais desinspirados. Felizmente, estes são pouco ocorrentes.

Já as animações são fantásticas e muito polidas. Quer as animações das personagens, quer durante as fantásticas cutscenes animadas que apresentam pedaços da história. A nível sonoro, o jogo é um mimo. Nota-se o excelente trabalho de Peter Mc, também responsável pelas excelentes bandas sonoras de Brutal Legend e Sly 2 e 3. A música é geralmente intrigante, muito ao estilo dos filmes de espiões franceses, mas também difere de época para época, ajustando-se a cada uma. Complementa na perfeição a jogabilidade e por vezes até adiciona ao caráter cómico do jogo. Soberba.

O jogo conta também com uma versão em Português europeu. Não só as legendas, mas o diálogo também. A tradução está bem conseguida, com as personagens a terem vozes adequadas. É bom para jogadores mais novos, mas a versão original está simplesmente soberba, aconselho que se jogue em Inglês. Estranho também é que quando o jogo está em português, os urros e os outros sons que são falas das personagens estão nas vozes em inglês. Fica algo confuso e apesar de não ser aberrante, nota-se. A sonoplastia está mediana, e passará algo despercebida ao longo do jogo.

Este é um jogo que poderá ser jogado dos 8 aos 80 anos. A qualidade do design dos níveis faz com que qualquer pessoa possa desfrutar da nova aventura de Sly Cooper. Pena a falta de um modo de dificuldade superior, porque já que as penalidades para quando se falha é quase mínima.

Não é um jogo inovador, no sentido em que é algo que já foi feito dezenas de vezes. No entanto, na actual geração, são raros os jogos como Sly e sente-se alguma novidade ao se jogar Thieves in Time. Para quem sente alguma nostalgia de jogos de plataforma em 3D da geração anterior e há muito que não joga um jogo do género, é altamente recomendável. Não é um jogo que pareça velho, porque velhos são os trapos, mas é quase como uma ode a outros tempos.

O Japão Feudal é tão relaxante...



Esteticamente, é bastante agradável o jogo e a variedade é bastante grande. Tem um estilo inconfundível, animações excelentes e vídeos animados de alta qualidade. Tudo se junta para criar um jogo que visualmente é aprazível. No entanto, algumas texturas estão algo fracas.



Se as secções com Sly são praticamente sem erros, há outras, como as de Murray, que são completamente medianas. Os mini-jogos também podem ser um misto de frustração com os controlos de movimento e boas distrações. Felizmente, há mais gameplay bom do que mau.



A banda sonora é quase perfeita, de qualidade espantosa. Variada e intrigante, complementa a jogabilidade de uma forma espantosa. É preciso dar os parabéns ao compositor, vale a pena ouvir em separado. As vozes em português estão satisfatórias e a sonoplastia mediana.



É um jogo bastante longo por si só, mas se se quiser completar tudo, o que é altamente aconselhável, pode durar mais de 20 horas. A melhor notícia é que é um jogo que foi lançado mais barato do que é normal (49,99€ para a PS3), é um jogo que traz uma alta relação preço/longevidade.



Sly Cooper: Thieves in Time não é um jogo perfeito. Longe disso, sem dúvida. Mas traz consigo um charme inegável e um cheirinho a nostalgia fantástico. Alguns pequenos problemas podem irritar, mas a experiência num todo é bastante boa. Adicione-se as funcionalidades de cross-buy e cross-save e temos em mãos um jogo quase obrigatório para os fãs de jogos de plataformas na PlayStation 3 e Vita.



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