Crónica 18: Pré-reservas



CRÓNICAS



A geração de consolas que se encontra agora no seu terminus viu nascer um bom número de tendências fantásticas. Quer seja a explosão dos jogos indie ou o relançamento de obras primas em HD, há muito que festejar e tentar expandir com o lançamento das próximas consolas. No entanto, é fácil encontrar um sem número de problemas que atacam a indústria e, acima de tudo, os consumidores. A prática das pré-reservas é uma moda que ganhou bastante popularidade nos últimos 5 anos e, na minha opinião, é das maiores ofensas aos jogadores.

Todos nós sabemos os entraves a vender um jogo usado. O dinheiro que recebemos por um jogo com poucas semanas nos grandes retalhistas é quase cómico. Para mais, e com o surgimento dos passes online, é normal que a procura desça. E se estivermos a falar no computador, é quase impossível de reaver o nosso dinheiro, especialmente em serviços online como Origin e Steam (se bem que há boas notícias que isto possa vir a mudar no velho continente).

E por vezes não é uma questão de se vender um jogo que já se completou, mas sim um jogo de que não se gosta. Se um jogador for a uma loja de roupa e comprar uma tshirt e a uma loja de videojogos comprar um videojogo (ou uma frigideira, sei lá) e chegar a casa e não gostar de ambos, poderá voltar à loja de roupa onde será reembolsado por completo, mas na loja de jogos terá sorte se receber 20% do preço a que comprou o seu videojogo. O que poderá então o gamer fazer? Pouco, para além de ter atenção ao que compra.


E aí surgem as pré-reservas. Muitas vezes, pré-reservar um jogo significa nada mais do que a possibilidade de ter alguns bónus e talvez receber o jogo um bocadinho antes de quem não pré-reservou. Já falei sobre isto numa crónica anterior, onde realcei que muitas vezes chega a ser impossível ter todo o conteúdo para um jogo, sem se comprar mais que uma cópia em retalhistas diferentes. Mas esse não é o problema em questão. O dilema ocorre quando temos exemplos de jogos como Aliens: Colonial Marines, Duke Nukem e, mais recentemente, Star Trek.

Star Trek foi lançado dia 23 de Abril na América do Norte e ontem na Europa. É um jogo que prometia trazer diversão em modo cooperativo através da pele das memoráveis personagens Spock e o Capitão Kirk. Quem, no dia do lançamento, visitasse o site Metacritic, pensaria que aqui se encontrava um excelente jogo, porque a pontuação dada pelos usuários era superior a 9/10. Isto porque não teriam sido fornecidas cópias para análise aos principais sites de crítica, o que geralmente é um mau sinal.

E que mau que ele era. Todos os jogadores que fizeram pré-reserva da versão para PC de Star Trek e ousaram jogá-lo depararam-se com algo que não funcionava. Não estou só a falar de problemas com bugs que foram apontados nas análises até agora lançados, mas uma impossibilidade de jogar Star Trek com um ser humano cooperativamente, que segundo a editora, é o grande selling point do jogo. O modo encontrava-se lá, mas um problema qualquer fazia com que fosse impossível encontrar um parceiro online, ou mesmo em LAN, o que se prolongou por mais de dia e meio.


A versão curta da história é a seguinte: aparentemente, todas as grandes análises dos usuários do site Metacritic não passavam de grandes embustes, possivelmente por parte de pessoas da Namco (publicadora do jogo). Até no fórum Steam de Star Trek, um usuário que dizia que não tinha problemas de conexão, tinha mais de 150 horas de jogo e achievements que datavam de muito antes do lançamento de Star Trek, podendo ser assim alguém ligado à produção do jogo.

Para além da aparente falta de ética de toda a gente envolvida com o jogo, que é aberrante e sinceramente nojenta, é preciso perguntar o que ganharam os jogadores que fizeram a pré-reserva? Um jogo que não funcionava a 100%, e que quando funcionava, era bastante fraco (a actual média de imprensa do jogo no Metacritic é 4.5/10), com uma imensidão de glitches, visuais datados e gameplay demasiado genérico. Será que muitos deles teriam comprado o jogo se soubessem de tudo isto antes do seu lançamento? Provavelmente não.

Vou ser direto. As grandes editoras só se interessam por uma coisa: o dinheiro dos jogadores. E as pré-reservas são só mais uma maneira de nos lixarem a nós, gamers que tudo o que queremos é jogar um bom videojogo. Porque o que se ganha com uma pré-reserva é muito pouco para o risco de acontecer algo como é o caso de Star Trek e muitos outros. Os bónus de pré-reserva são muitas vezes ridículos, como armas e skins ou qualquer outra treta que já deveria vir no pacote original e a facilidade de obtenção de um jogo hoje em dia faz com que a diferença de tempo a mais com o jogo entre um gamer que fez pré-reserva e um que não fez é diminuta.


Como regra geral, toda a gente deveria abster-se de comprar um jogo para qual ainda não há análises de fontes credíveis. Sabemos que há muita promiscuidade entre os grandes sites e as grandes editoras, mas hoje em dia há muitas fontes independentes (incluindo o Gamer Source) que trazem análises honestas rapidamente. Porque no final de contas, quem se ficou a rir no caso de Star Trek foi a Namco, que ficou com o dinheiro dos jogadores que estavam ansiosamente à espera do jogo no bolso.

E se cada vez menos pessoas fizerem pré-reservas, só é natural que esta tendência comece a morrer. Nesta altura, há demasiado dinheiro a ser ganho por parte das editoras e as pré-reservas só se têm tornado cada vez mais ridículas. Este é só mais uma prática cancerígena que serve para nos sugarem o dinheiro dos bolsos. Está na altura de dizer basta, consumidores inteligentes são consumidores felizes.



0 comentários:

Enviar um comentário

Mensagens Recentes Mensagens Antigas Página Inicial