Analisámos aquele que é um dos mais esperados jogos de terror deste ano, e um surpreendente exclusivo de peso para a PlayStation 4. Intrigados? Venham connosco.
Veredicto
Until Dawn foi feito pela Supermassive Games, uma produtora até agora praticamente desconhecida que só tinha feito, ironicamente, alguns jogos para públicos mais infantis sem grande qualidade.
Originalmente, a produtora tencionava lançar Until Dawn para a PlayStation 3 como um título para o Move, que fazia uso do sensor de movimentos para controlar os personagens e criar uma experiência diferente. Felizmente, a Supermassive optou por um rumo diferente e lançou o jogo para a PlayStation 4, assumindo-se como um título de calibre completo.
Sam é uma das personagens com que mais me identifiquei |
A história é o clássico de um teen horror: tal como o director criativo nos explicou na nossa entrevista, o jogo foi beber inspiração de filmes como Saw, Sexta-Feira 13, Último Destino e Sei O Que Fizeste no Verão Passado, e essas influências notam-se bem no jogo.
Oito adolescentes decidem retornar a uma cabana de férias isolada na montanha, como forma de homenagem a um terrível evento que se sucedeu durante o ano passado no mesmo sítio, e também para passarem uns bons momentos juntos.
Como seria de esperar, eventos estranhos começam a acontecer e, aos poucos, o grupo começa-se a separar e terão de enfrentar vários perigos.
Preparem-se para vários sustos |
O jogo é baseado na teoria do Efeito Borboleta que, sucintamente, define que qualquer acção que tomemos, por mais insignificante que pareça, pode tomar proporções catastróficas no futuro. O nome advém da alegoria de que um bater de asas de uma borboleta hoje pode provocar um furacão noutro lado do mundo.
Sendo assim, todas as nossas decisões ao longo do jogo terão consequências graves e, no final, poderemos terminar a história com todas, nenhumas ou apenas algumas personagens vivas.
No meu caso, consegui terminar com todas as personagens vivas à primeira.
Decisões e mais decisões |
Um dos segredos para serem bem sucedidos (supondo que o objectivo é salvar todos) é tentarem explorar o cenário em busca de totens: objectos indígenas que contém uma premonição do futuro. Vários destes totens (alguns não se percebem muito bem) ajudarão imenso mais à frente na altura de tomar decisões.
Também é importante encontrarem pistas espalhadas: apesar de não ajudarem directamente como os totens, perceber o enredo e os acontecimentos passados ajudará a compreender melhor as personagens.
A história tem um grande twist pelo meio, onde a identidade do psicopata é revelada. Pessoalmente, achei este twist previsível e já tinha suspeitado quem seria há algum tempo.
A identidade do psicopata é fácil de descobrir, para quem é atento |
Na minha história consegui salvar todos os personagens, mas há várias decisões que se fossem tomadas diferentes, resultariam em várias mortes. Até as decisões mais inocentes, como fugir ou esconder-se, podem resultar na morte do vosso personagem. E sentir-se-ão injustiçados pois não tinham maneira de saber que decisão tomar. A vossa única chance será tentar apanhar o máximo de totens possíveis e confiar na sorte.
É injusto, é verdade, mas a produtora decidiu adicionar um pouco de sorte no jogo. Estes momentos também estão presentes durante os QTE's onde, por vezes, a melhor decisão é não fazer nada, mesmo que não seja óbvio.
E, por falar em QTE's, preparem-se para ter o dedo sempre próximo do comando. Os tempos de reacção são bastante curtos (alguns menos de um segundo) e se os falharem podem muito bem morrer. Os mais desesperantes são mesmo os que temos de manter o comando quieto durante uns segundos. Basta um minúsculo movimento, e falhamos. Achei algo injusto, pois às vezes até a própria vibração do controlo atrapalha.
Incrível como a toalha nunca cai... |
Outra funcionalidade presente são medidores de personalidade (como curiosidade, romance, sinceridade, bravura) de cada personagem e a sua relação com os restantes elementos do grupo. As nossas decisões afectarão estes medidores, mas não sei até que ponto estes afectam o jogo em si.
Acredito que haja momentos em que as personagens tomarão decisões próprias baseadas nos medidores, mas não tenho a certeza.
Emily, a personagem que achei mais irritante |
Em relação à história em si, o enredo é interessante e durante a noite toda do jogo sentimo-nos ansiosos e desesperados para que a manhã chegue. Não senti empatia por quase nenhuma das personagens. Achei várias delas mesquinhas, chatas, mandonas e até mesmo insensíveis. Quando se pensava que alguém tinha morrido, quase ninguém chorou. Apenas diziam asneiras durante um pouco, como se tivessem deixado queimar o bolo no forno. A emoção que mostram é exactamente a mesma.
No entanto, gostei de algumas das personagens, nomeadamente da Sam e do Mike. A Sam foi uma das que não entrou na brincadeira infantil do início do jogo, e que culminou num desastre, e o Mike gostei por ser um dos mais corajosos e divertidos.
De resto, achei o leque de personagens difícil de gostar. Especialmente a Emily, irritante como tudo, a qual não tinha pena nenhuma se acontecesse alguma coisa.
A presença do psicólogo é bastante interessante, mas algo desaproveitada |
Outro personagem interessante foi o psicólogo que aparece entre cada capítulo do jogo. Sem querer dar nenhum spoiler, achei a actuação por parte do actor Peter Stormare bastante boa mas não percebi até que ponto este personagem influenciou o jogo em si.
Achei até que foi algo desaproveitado, visto que apenas comunica connosco sem nunca interferir visivelmente com a história.
As expressões faciais estão bem conseguidas |
Graficamente, Until Dawn é fraquinho, muito possivelmente visto ter sido um jogo que começou a ser desenhado para a PS3. Há quebras graves constantes de framerate, com o jogo a flutuar geralmente entre os 20fps e os 30 fps.
Como o jogo não exige muita precisão na jogabilidade, nem é propriamente um título de acção ou shooter, ainda dá para suportar. Mas já vi jogos com gráficos bem melhores e framerate muito mais estável. Está claramente mal optimizado.
As expressões faciais são boas, fruto de um processo de captura de expressões faciais ligeiramente diferente do habitual, conforme nos contaram na nossa entrevista. No entanto, não são nada do outro mundo e chegam a ser esquisitas em certos momentos.
Os efeitos de iluminação, a arte gráfica e o resto da ambientação também se encontram bem conseguidos, deixando o jogo minimamente apelativo (em termos visuais).
Não se incomodem com o maluco no fundo |
Em termos de jogabilidade, não há muito a dizer sobre Until Dawn. Já jogaram Heavy Rain? Beyond: Two Souls? Walking Dead da Telltale? Então é mais ou menos a mesma coisa.
Podem passar quase o tempo todo jogando com uma mão. Apenas não se descuidem pois a qualquer momento pode surgir um QTE do nada que vos mata a personagem. De resto, é explorar cenários apontando a lanterna (a câmera é fixa, e por vezes até atrapalha) e disparar contra objectos/inimigos também durante um QTE.
No entanto, senti-me sempre preso ao jogo. Apesar de não ter uma jogabilidade complexa como num título de acção, a Supermassive fez um trabalho muito bom em criar uma ambientação sinistra e tenebrosa, deixando-nos sempre com os nervos à flor da pele.
Nunca sabemos quando alguma coisa vai saltar do ecrã para nos assustar do nada. E, se tiverem uma PS Camera da PS4, deixem-na ligada para ficar com uma recordação dos vossos "cagaços".
Lembrem-se: por vezes não fazer nada é a melhor opção |
A banda sonora de Until Dawn é praticamente existente, visto que a ausência de música tem o objectivo nos deixar num clima de suspense. O resto dos efeitos sonoros, como explosões, tiros, ruídos, estão bem conseguidos.
A dobragem nacional vai dividir opiniões: alguns irão detestar, enquanto outros não acharão um mau trabalho. Pessoalmente, achei um misto das duas. Algumas personagens têm vozes que lhes assentam bem (como a Sam, Mike, Chris ou até mesmo o psicólogo), mas há outras que são esquisitas e até irritantes (Ashley e Emily).
Ashley é vingativa, cuidado com o que lhe fazem |
Until Dawn é composto por 10 capítulos, com cada um a demorar cerca de uma hora. Ao todo, devo ter terminado o jogo em cerca de nove-dez horas, explorando bem o mapa e encontrando quase todos os totens e pistas. Ficaram alguns pelo caminho.
Obviamente que, no final, ainda há vontade para uma segunda investida para descobrir o que aconteceria se tivéssemos tomado decisões diferentes. De qualquer das formas, não tenham pressa em terminar o jogo e desfrutem da vossa aventura e de todo o clima de tensão presente.
O conhecido "jogo do copo"... Alguém terá mexido o dedo? |
Quebras de framerate graves e frequentes que felizmente não prejudicam muito a experiência, devido à jogabilidade simples do título. Expressões faciais bem conseguidas, embora esquisitas, mas no geral o jogo podia estar muito mais bem optimizado e bonito.
Jogabilidade básica, até mesmo para quem é leigo. Os únicos momentos mais difíceis são os QTE's de reacção rápida e os segundos manhosos de deixar o comando parado. A ambientação bem conseguida deixa um clima de tensão sempre presente que nos deixa imersos, apesar da jogabilidade rudimentar.
Efeitos sonoros bem conseguidos, com ruídos do ambiente que nos deixam ainda mais apavorados. Em termos vocais, a dobragem nacional encontra-se num misto entre má e "meh". Este é um dos títulos que aconselhamos a jogar com as vozes originais.
A história demora cerca de 9 horas, com exploração do cenário. Há ainda vontade para pelo menos uma segunda vez, para descobrir o que poderíamos ter feito diferente e como isso afectaria o desenrolar dos acontecimentos.
Sistema de pontuação |
Until Dawn é uma surpresa bastante agradável, uma das maiores deste ano. Não se esperava muito de um título de terror com uma jogabilidade básica e gráficos medianos, vindo de uma produtora quase desconhecida. A verdade é que se revelou como uma verdadeira novidade dentro da indústria e a prova viva de como não é preciso um grande orçamento para criar um título imersivo e interessante. Absolutamente recomendado para quem pretende uma experiência diferente.
Categoria:
Análises,
Análises PS4
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