Sábado Sem Censura, por Ivo Pereira



CRÓNICAS



Sábado Sem Censura é a nossa rubrica semanal onde convidamos um autor de fora para vir descarregar o que lhe vai na alma.

Gajo convidado: Ivo Pereira, WASD

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Analisar videojogos

Esta é a primeira vez que escrevo fora do WASD e posso já confessar-vos que depois de aceitar o convite não fazia ideia do que podia trazer para este "Sábado Sem Censura", mas horas depois, ocorreu-me um assunto com que certamente o André e qualquer outro possuidor de um site de jogos, também se irá relacionar. Refiro-me ao facto de normalmente sermos rotulados de sortudos por recebemos jogos de forma "gratuita", mas seremos mesmo uns sortudos?


“Analisar o Uncharted 4: A Thief's End ou o novo DOOM é uma sorte, de facto. Então e se tivermos um jogo para um público-alvo mais juvenil?”


Juntem-se a mim enquanto descobrimos o que está relacionado com o facto de receber os jogos e no final teremos uma resposta para a minha pergunta.

Este tema ocorreu-me enquanto um amigo partilhou comigo o seu fascínio pelo Unravel. Gostou tanto do jogo, que decidiu criar o Yarny para o seu filho (mais para ele, certamente) e como a Electronic Arts enviou um boneco do Yarny para a imprensa eu acabei por lho mostrar para o ajudar na construção.
A sua reacção, mal viu o boneco, foi perguntar onde o tinha arranjado e, como já tem vindo a acontecer com outras pessoas, chamou-me sortudo.


Não quero transmitir a ideia que há algo de errado em receber os jogos e outros artigos desta indústria, nada disso. Afinal de contas quando temos esta a paixão por jogos e esta vontade de partilhar a nossa opinião com toda a Internet, tudo é feito com muito gosto. Porém, existe um trabalho árduo de bastidores que quero partilhar convosco.

Analisar o Uncharted 4: A Thief's End ou o novo DOOM é uma sorte, de facto. Então e se tivermos um jogo para um público-alvo mais juvenil?
Muitos podiam fugir a sete pés. Contudo, não podemos negar a análise só porque não faz o nosso estilo. Temos de pegar no jogo, pensar no público alvo e partilhar a nossa experiência. Sem esquecer que a nossa opinião será a principal impulsionadora da compra (ou não) do jogo. Como tal, temos de pensar se o jogo em questão serve o seu propósito. No caso dos jogos infantis, um género que usei apenas como exemplo, não é tarefa fácil analisar o nível de entretenimento, intuição e nível técnico segundo os padrões das crianças a quem se destinam.


Há certas questões que temos de ter em conta ao partilhar a nossa opinião. Se pensarmos bem, para analisar um jogo, temos de passar muitas horas a jogar, de preferência até o acabar para ter uma visão mais ampla ao escrever sobre ele. Depois, temos casos de jogos que são gigantes, como o The Elder Scrolls V: Skyrim ou, o mais recente, The Witcher 3, onde chegar ao fim uma só vez, não é suficiente. Então, como se analisam estes jogos que podem durar meses a terminar, quando temos que publicar a análise atempadamente, enquanto o jogo é recente e há interesse?

Nós precisamos de tempo para interiorizar a história, perceber as mecânicas e, se possível, ter um ponto de comparação com outro jogo para nos ajudar a perceber o que está bem e/ou mal. Também existem embargos para a publicação, onde nos é dada uma data e hora específica para as análises serem publicadas. Neste caso em concreto, recebemos jogos antes do seu lançamento, por vezes semanas, mas nem sempre há tempo para "consumir" o jogo como gostaríamos e corremos o risco de deixar coisas por dizer. No Uncharted 4, por exemplo, não consegui explorar com o nível de profundidade que desejava e só depois de publicada a análise, cheguei à conclusão que poderia ter dito muito mais.


Então, como se analisam estes jogos que podem durar meses a terminar, quando temos que publicar a análise atempadamente, enquanto o jogo é recente e há interesse?


Uma análise não segue um determinado modelo. Há elementos que temos de falar sem falta, como a história, a jogabilidade e o nível técnico, mas fora isso cada jogo é um jogo e não podemos de nenhuma forma apressar a análise, porque isso transparece no texto e arriscamo-nos a perder leitores. 
Numa visão mais abrangente, cada autor tem a sua especialidade. Se for amante de jogos de estratégia, pode não se dar bem com jogos de acção; Se for um jogador de First Person Shooters pode não se relacionar com RPG e há ainda o caso de quando gostamos muito de um jogo. No meu caso, que sou grande fã da série Uncharted, tenho de me conter porque quando gostamos temos tendência a achar que tudo está perfeito e até pode estar, mas temos de estar conscientes que pode haver problemas e temos de jogar com um olhar crítico e não por puro lazer.


No Uncharted 4, por exemplo, não consegui explorar com o nível de profundidade que desejava e só depois de publicada a análise, cheguei à conclusão que poderia ter dito muito mais.


Acredito que o André também terá aqueles jogos que lhe custaram a analisar, mas faz parte deste desafio e desta nossa paixão. É uma grande responsabilidade, sem dúvida, mas no fim compensa ver os comentários, ver a nossa análise partilhada e no melhor dos casos, nos canais oficiais com pequenos excertos do nosso texto. Quantos aos jogos que recebemos, eu encaro-os como uma recompensa pelo trabalho que tanto gostamos de fazer.
Em resposta à minha pergunta inicial, eu diria que sim... Somos uns sortudos! Agora, venham de lá esses jogos!

Antes de voltar "à minha casa", quero deixar aqui um agradecimento ao André Lopes pelo seu convite e pela total liberdade no assunto.



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