[Análise] Mass Effect 3



ANÁLISES















Uma das maiores séries de toda a indústria de videojogos chega ao fim, depois de dois jogos que causaram furor, sucesso e, acima de tudo, mostrou ao mundo como os jogos devem ser feitos. Desde que foi lançado para a Xbox 360 em Novembro de 2007, o primeiro Mass Effect assumiu-se como um título promissor e uma obra-prima da BioWare. A exclusividade da Microsoft acabou no início de 2011 quando Mass Effect 2 chegou à PlayStation 3, pela primeira vez na série, um ano depois do mesmo jogo ter sido lançado na 360.
Mass Effect 3 foi, assim, o primeiro título da saga a ser lançado em todas as três plataformas ao mesmo tempo, no mesmo dia. Não é um dos jogos mais esperados este ano, é um dos mais esperados desta geração. É a conclusão ao universo incrível que a BioWare criou que até teve (ou melhor, vai ter) direito a uma adaptação cinematográfica, o encerramento de 5 anos de batalhas inter-galácticas, duelos polémicos e amizades duradouras. É o apogeu, a apoteose de uma das mais magnificentes aventuras desta década.
O peso nos ombros da produtora era gigante, terá conseguido a BioWare carregar a pedra até ao cume e ter feito o jogo que os fãs (e todos nós) esperavam?

Veredicto

A série Mass Effect foi crescendo em popularidade e este último capítulo atraiu muito mais atenção do público que o primeiro jogo da série lançado. Por essas razões, é normal que muitos se sintam curiosos e tentados a comprar o jogo, uma atitude que eu não recomendo por algumas razões. Primeiro porque a história e o universo todo de o jogo é enorme. É claro que podemos perfeitamente ir ler um resumo à Internet, mas não iria ser a mesma coisa, não iria ter o mesmo impacto. O fantástico enredo da série deve ser vivido, jogado, explorado, sentido. A BioWare tenta ser generosa com novos jogadores, incluindo neste jogo (como já aconteceu com o título anterior) uma pequena banda desenhada que resume (e é mesmo um resumo, nada de aprofundamentos) a história e permite ao jogador tomar algumas decisões do passado que influenciarão este jogo. Contudo, e friso, não é a mesma coisa. Não irão perceber grande parte dos diálogos e toda a história e vida paralela das personagens. Façam um favor a vocês mesmos e comprem os dois primeiros jogos antes de imergirem neste. Vão demorar uma boa quantidade de horas, é verdade, mas no final será recompensador.
Mass Effect 3 é um jogo com o qual não devemos estrear-nos na série, tal como não devemos entrar no cinema apenas na melhor parte de um filme. 

Os eventos de Mass Effect 3 começam onde o segundo terminam. Irão assumir o controlo do Comandante Shepard na sua busca desesperada de não só salvar a Terra como a galáxia inteira contra uma ameaça, os Reapers. O problema é que eles são muito mais poderosos que nós e a nossa única esperança é deixar velhas disputas para trás e tentar unificar a galáxia para combatermos os Reapers. Vou tentar não alongar-me mais do que isto sobre a história, pois dependerá muito das decisões que tomarem e, como é óbvio, não quero spoilar ninguém.
E, já que falo em decisões, começo com um dos pontos que mais marcou a série, as decisões que tomamos. Temos a possibilidade de importar o nosso save de Mass Effect 2 para incluir neste jogo todas as decisões que tomámos desde o primeiro jogo da série. Isto não só irá dar mais profundidade ao jogo, como aumentar bem mais a empatia que sentimos pelo protagonista. O número de decisões que podemos tomar, mesmo falando só deste terceiro jogo, é absurdo, com centenas de variáveis possíveis. O jogador irá ter de decidir num momento entre coisas fúteis do dia a dia, e noutro entre opções que irão marcar a galáxia para toda a eternidade. Há momentos em que temos mesmo de parar o jogo para pensar que decisões tomar, pois algumas mexem muito com a nossa ética e temos de tomar decisões difíceis.

Anderson será uma personagem fulcral e pela qual iremos sentir empatia

Todo o nosso percurso, aparência, aliados, aspecto do mundo, etc. é modificado consoante as escolhas que fazemos. Existem essencialmente dois tipos: Paragon e Renegade. O primeiro é o habitual papel de "bonzinho" e o segundo é mais badass. Contudo, ao contrário de outros jogos com este sistema, ambas as escolhas revertem para acções presumidamente boas, apenas muda a maneira como a desempenhamos. Um Shepard Paragon poderá tentar convencer um criminoso a soltar a vítima do resgate, enquanto que um Shepard Renegade irá dar logo um tiro na cabeça do malvado. Ambas as opções irão resgatar a vítima (nem sempre, há decisões marcantes), apenas variam na maneira como encaramos os desafios propostos. Muito interessante este sistema, que já vem, aliás, desde os primórdios da série.

Um dos aspectos que os jogadores mais se queixaram é o final do jogo e, consequentemente, da trilogia. Como é óbvio, não vou revelar qual o final e porque os jogadores se queixam, pois isso iria estragar-vos a experiência de jogo. Contudo, posso dizer-vos que, independente de quaisquer decisões que tenham tomado desde o primeiro Mass Effect (sim, de entre as milhares de combinações de decisões possíveis) só existem 7 finais distintos. Mas o que mais chateou os jogadores não foi este pequeno número de finais, mas sim o facto de eles serem muito parecidos uns com os outros, a cutscene final ser idêntica em todos. Deixo a vocês para descobrir quais são as diferenças e semelhanças, se Shepard morre ou sobrevive em todos eles, se salva a galáxia, etc. Há também uma decisão final que irá influenciar tremendamente estes 7 finais possíveis. Aliás, influencia até um pouco mais do que o que devia (na opinião de alguns jogadores): após tanta luta ao longo de três jogos, vemo-nos subordinados a estas hipóteses apenas?
Na minha opinião pessoal, achei um final aceitável e, sobretudo, emotivo. A experiência de Mass Effect concentra-se em grande parte em mexer com as nossas sensações, e o final é fiel a essa premissa. Alguns de vocês irão não gostar certamente, e irão reclamar com a produtora, outros irão achar aceitável, mas eu já vi finais bem piores e muito mais incompletos. Pode não ter sido o melhor, mas gostei do final do meu jogo (que será diferente, mais uma vez, consoante as vossa decisões).

O actor que dá a voz a Illusive Man fez um trabalho notável

O motor gráfico de Mass Effect 3 é o mesmo do primeiro jogo, por isso é normal que as parecenças sejam muitas com os jogos antigos, com algumas melhorias e afinações óbvias. No geral, os visuais são bonitos. Gostei do nível de profundidade do jogo (as secções em que  andamos pela cidade e vemos um Reaper gigante a destruir tudo são visualmente fantásticas), das expressões faciais, dos efeitos visuais (os poderes estão muito bem feitos e as explosões também estão realistas), da física do jogo (o sistema de ambiente está bem realista, com o vento a embater nas árvores, água bem conseguida, terra bem feita, nuvens bonitas, etc.) e a movimentação está mais natural. Achei que as texturas podiam estar mais bem feitas mas, no geral, não desiludem.

Há, contudo, um grande problema. A versão testada foi a da PlayStation 3, que veio com graves problemas no que toca à taxa de FPS's, problemas esses que já tinham sido identificados na Demo e que esperava-se que tivessem sido corrigidos na versão final. O jogo desce constantemente dos 30 FPS (que são estáveis na versão Xbox 360, com algumas quedas ocasionais) para uns ridículos 10 FPS. E não falo em quedas oportunas, em momentos de maior informação no ecrã, refiro-me a quedas na taxa de frames de 10 em 10 segundos. Basta olhar um pouco para o horizonte, usar um poder num inimigo, disparar um míssil e até simplesmente correr para começarmos a ver o ecrã aos soluços.

Os Brutes são difíceis de matar e vêm a correr na nossa direcção

É verdade que, numa perspectiva geral do jogo, acabamos por ignorar estes erros e desfrutar  do jogo. Acreditem que não serão muito prejudicados. Contudo, era obrigação da BioWare ter feito um esforço pelo os fãs que têm uma PS3, sobretudo depois do bom trabalho que fizeram ao trazer o Mass Effect 2 para a consola da Sony e que ficou praticamente igual à versão 360.
Enfim, os gráficos no geral são bons (chegando até a impressionar nalgumas partes), mas não esperem encontrar aqui o supra-sumo dos visuais e efeitos especiais.

Naquilo que Mass Effect 3 realmente se destaca é na jogabilidade. Nota-se de cara algumas melhorias bem recebidas: a jogabilidade está mais natural e fluída, com a possibilidade de saltarmos precipícios e darmos pequenas cambalhotas para nos desviarmos de investidas de inimigos corpo-a-corpo. Usar os poderes continua a ser bastante divertido, bem como usar um vasto leque de armas contra os nossos inimigos. Como é habitual, poderemos escolher duas personagens para nos assistir durante as missões (o número de aliados à disposição varia consoante o final do jogo anterior). Essas personagens, cada uma com poderes, armas e características próprias, irão ajudar-nos a combater qualquer tipo de inimigos pela frente: podemos comandá-los a irem para uma posição estratégica, fazê-los mudar de arma ou usar um poder. Temos sempre a hipótese de abrir o menu circular de armas ou poderes que pára momentaneamente o jogo, para podermos pensar melhor no que fazer.

Os aliados parecem mais espertos agora, com uma IA melhorada: notei que conseguem matar um maior número de inimigos sozinhos (sem lhes ordenar fazer qualquer acção) e posicionam-se melhor ao longo do mapa, procurando-se distribuir entre as linhas de fogo. Ainda morrem com alguma frequência, mas é mais aceitável e são, de facto, prestáveis, ao contrário do que sucede com outros jogos.

O número de diálogos é enorme e podemos muitas vezes escolher o rumo da conversa

Não sei se foi só por mera coincidência, mas não encontrei em nenhum ponto o sistema de hack do jogo anterior, no qual nos era apresentado um minijogo para podermos passar por uma porta ou descodificar um computador. Agora Shepard faz tudo sozinho, apenas temos de apertar num botão para ele passar por a anteriormente fechada porta.
O sistema de upgrades também sofreu algumas alterações. Podemos evoluir os nossos poderes até ao Nível 6, com um custo de pontos equivalente ao número do nosso nível. A partir do Nível 4 do poder temos de tomar decisões entre duas evoluções possíveis do poder (do género, escolher entre tirar mais dano ou afectar mais inimigos).
À medida que subimos o nosso nível vamos ganhando esses pontos (4 por cada nível para nós, e outros 2 para cada membro do squad; provavelmente é um pouco diferente, mas é qualquer coisa assim) que poderemos gastar a evoluir os poderes. Existem também um sistema de peso para as armas. À medida que equipamos mais armas o peso que Shepard tem de carregar aumenta e isso irá influenciar negativamente o tempo de carregamento dos poderes. Equipar apenas uma pistola irá acelerar muito o cooldown dos poderes, enquanto que uma espingarda e uma caçadeira, por exemplo, irá aumentar o tempo de espera.

O sistema de cobertura continua muito bom, com a possibilidade de mover-nos de cover em cover. Teremos de usar diferentes tipos de munição e poderes para passarmos pelos diversos inimigos pelo jogo. Senti falta de mais bosses. É verdade que existem alguns, mas mais um ou outro eram bem-vindos. A dificuldade do jogo vai aumentando à medida que progredimos: o que ao início parecia uma brincadeira de criança torna-se num pesadelo, sobretudo nos últimos momentos da missão final.
Aqueles que tiverem uma Xbox 360 com Kinect podem usar comandos de voz para activar poderes, acções e ordens. Apesar do delay de cerca de 1-2 segundos, o sistema funciona bem, pena é que apenas em Inglês (tem outras línguas mas não o Português).

No geral, a jogabilidade de Mass Effect 3 é excelente e é de fazer frente a muitos third-person shooters conhecidos, assemelhando-se um pouco a Gears of War (mas só no sistema de cobertura e disparo, atenção, este é um jogo RPG). Os fãs deste género irão identificar-se aqui com vários momentos de acção, que estão ainda mais presentes neste terceiro capítulo, e adrenalina. Já os apreciadores de RPG's também não ficarão desiludidos nem um pouco, é a união do melhor de dois mundos.

Sobreviver é difícil

Toda a componente sonora de Mass Effect 3 é excelente. O trabalho de vozes é impecável, com Mark Meer e Jennifer Hale a encarnarem de forma notável a versão masculina e feminina de Shepard, respectivamente. Outra das vozes que gostei muito é a do Illusive Man, que me soava familiar. E não era para pouco, já que o actor responsável é Martin Sheen, vencedor de um Globo de Ouro, que dá vida ao papel do seu personagem de forma brilhante. O casting inclui ainda Keith David, vencedor de 2 Emmys por performance vocal, que encarna o papel do Admiral Anderson. Podia enumerar muitos mais, mas não quero alimentar o meu péssimo vício de estender demasiado as análises.
Cito apenas, por último, o nome de um compositor que também aprecio bastante, Clint Mansell, responsável pela trilha sonora de muitos filmes notáveis, como o Cisne Negro (vencedor de um Óscar), O Wrestler (nomeado para Óscares), e muitos outros. Se a soundtrack do jogo é brilhante deve-se em grande parte a este compositor (e outros que também contribuíram).

De resto, os efeitos das explosões, poderes, etc. estão bem feitos e realistas. Toda a componente sonora de Mass Effect 3 está muito boa e não desiludirá mesmo os mais exigentes. O tema principal, que acompanha o início e final do jogo, é de fazer arrepios.

O combate corpo-a-corpo é gratificante

Demorei cerca de 18 horas a terminar o jogo na dificuldade normal, focando-me somente nas missões principais, desenvolvendo alguns romances e explorando um pouco os mapas em busca de itens e munição. É uma duração boa para um RPG, mas há que ter em conta que pelo menos as últimas duas horas foram dedicadas há missão final, que é muito grande.
O número de missões secundárias é absurdo: chega para fazer, sem exagero, pelo menos mais um jogo da série. Durante o jogo somos constantemente bombardeados com pedidos de ajuda de toda a parte da galáxia, o que faz disparar a nossa lista de missões. Ao todo, penso que se quiserem fazer todas as missões secundárias, evoluir tudo ao máximo e explorar tudo, chega para mais de 100 horas. Aliás, o jogo recomenda que façam as missões secundárias, pois assim estarão a evoluir a barra de força militar e essa barra irá também ser responsável por entre qual dos 7 finais possíveis irão ter no fim do jogo.
O número de coisas que podemos fazer é absurdo e incrível.

Essa barra de força militar também pode ser aumentada jogando o multijogador, que está muito bem conseguido. Trata-se de um multiplayer somente cooperativo, no qual lutamos com até mais três amigos contra vagas sucessivas de 3 tipos de inimigos (Geth, Cerberus e Reapers) em 6 localizações diferentes. Cada jogo demora entre 20-30 minutos e têm de completar 10 vagas de inimigos para terminarem a missão. Em cada vaga o objectivo é eliminar todos os inimigos para avançarmos para a próxima vaga, mas por vezes temos de completar objectivos específicos com tempo limite, como hackear um terminal, destruir inimigos específicos, etc.
Temos as 6 classes da campanha disponíveis para utilizar no multijogador: Adept, Soldier, Engineer, Sentinel, Infiltrator, e Vanguard. em cada uma delas temos várias raças disponíveis que irão variar os poderes (no máximo temos 3 poderes). O sistema de upgrades e de armas é idêntico ao da campanha, mas para desbloquearmos novas coisas temos de comprar packs na loja, que podem ser adquiridos com dinheiro real ou com pontos por irmos terminando as missões. No geral, gostei e muito do multijogador, quando funciona...


O multijogador está bem competente, divertido e desafiante

Digo isto porque os tempos de loading (tal como na campanha principal) são enormes e acontecem a toda a hora, e muitas vezes somos desconectados do jogo, sem falar no lag (é raro acontecer, mas acontece). Outras vezes, escolho o desafio Silver (podemos escolher os desafios Bronze, Silver e Gold, que equivalem à dificuldade dos inimigos) e o jogo entende que eu deva ir parar a um lobby Gold. Enfim...

Para terminar, Mass Effect 3 é sem dúvida um jogo fantástico que se mantém fiel ao universo incrível e enorme que a BioWare criou. Foi aumentado o número de sequências de acção, mas isso acabou por se fundir bem com o género RPG. O final irá deixar alguns desapontados mas, pessoalmente, achei emotivo. Há algumas pontas soltas, é verdade, mas a experiência que o jogo transmite camufla algumas partes por explicar.
É sem dúvida um jogo totalmente obrigatório para os fãs da série, de que não se irão arrepender. Para os que se desejam estrear, recomendo começar da maneira mais indicada: pelo início.
Mass Effect 3 é uma obra-prima videojogável e um marco nesta indústria. Um artefacto que todos os que se considerem jogadores deverão experimentar.

Por vezes é difícil manter a esperança...



No geral são bons, e chegam até a impressionar em algumas partes. Efeitos visuais bem conseguidos e bonitos, e motor de ambientação e de física muito bom. Algumas texturas menos bonitas que outras. Abuso dos efeitos lens flare.
Imperdoável as constantes quedas de frames na versão PS3.




Junta o melhor de dois mundos: o sistema de acção frenético dos third-person shooters e os elementos de RPG, de modo a que todos fiquem a ganhar. Algumas alterações deixaram a movimentação mais natural.
O número de decisões que podemos fazer é enorme.




Trabalho vocal verdadeiramente memorável e trilha sonora brilhante.
Efeitos sonoros realistas e bem conseguidos. 
O tema principal é de arrepiar.




A campanha dura umas boas 18 horas se focarem-se nas missões principais. É incrível o número de missões secundárias. Depois de terminado, irão querer repetir a campanha para explorar finais alternativos.
O multijogador é divertido e muito bom, embora apresente alguns problemas.






Mass Effect 3, para todos os efeitos, é o jogo que os fãs esperavam e, sobretudo, aquele que a trilogia merecia. Pode ter deixado algumas pontas soltas no final, mas, no geral, é sem dúvida uma obra-prima a todos os níveis e um marco desta geração.
Há que aplaudir a BioWare pelo esforço aos longo destes 5 anos a produzir um universo enorme e incrível como é o de Mass Effect.




Cumprimentos,

Lopes.

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