Bloodborne - Análise



ANÁLISES





















Um dos jogos mais esperados deste ano superou as expectativas e revelou-se num dos melhores títulos desta geração de consolas.

Veredicto

Como referi na minha antevisão, a minha experiência com os títulos da From Software sempre foram um pouco esquisita. Gosto bastante dos seus universos, lores e atmosferas e por essa razão vi walkthroughs comentados até ao fim tanto do Dark Souls como do Dark Souls 2, mas nunca completei nenhum deles.

Sendo assim, Bloodborne é a minha primeira experiência "a sério" com a From Software, apesar de já conhecer bastante bem os seus trabalhos anteriores. As minhas expectativas foram aumentando à medida que a data de lançamento se aproximava, mas só quando o fui experimentar a duas semanas de ser lançado é que fiquei fascinado.

Preparem-se para uma aventura...
É difícil explicar a história de Bloodborne não pela complexidade da mesma, mas porque um dos grandes factores inerentes ao espírito do jogo é sermos nós mesmos a descrobi-la. Ao início vão estar completamente à toa, sobretudo se não tiverem nenhum conhecimento prévio. "Quem é este velho?", "Que raio de lobisomem é este bicho?", "Então mas está tudo zombie nesta cidade?" são algumas das perguntas que farão a vocês mesmos.

Contudo, as respostas são-vos dadas à medida que vão progredindo e são proporcionais ao vosso interesse, exploração e atenção ao detalhe. Quanto mais quiserem descobrir e quanto mais lerem, mais ficam a saber. Há pormenores absolutamente deliciosos que fiquei a saber simplesmente tendo o cuidado de ler a descrição de um item, por exemplo.

Resumidamente, a cidade de Yharnam é conhecida há muito tempo pelos seus poderes de cura através de uma técnica de transfusão de sangue. Quando o nosso protagonista chega a esta cidade à procura de tratamento para uma doença, depara-se com uma cidade completamente amaldiçoada em que os habitantes se transformaram em bestas.

Na verdade, este sangue especial que curava as pessoas continha uma maldição, e a doença foi-se espalhando. Por agora, é tudo o que vos vou contar, não quero estragar o prazer dos pequenos momentos que, como eu, irão ter ao descobrir os pedaços da fascinante história por detrás disto tudo.

Podemos deixar no chão mensagens para os outros jogadores ou ver como morreram
Os gráficos de Bloodborne são decentes para um jogo desta geração, mas não dos mais bonitos que já vi. Obviamente há partes do cenário bastante bonitas mas, tecnicamente falando, sofre de alguns problemas.

Um dos principais é a queda de frames. O jogo corre a uma taxa de 30 fps, que eu considero insuficiente para a geração em que estamos, mas mesmo assim há quedas notáveis em zonas com mais inimigos e elementos no cenário. Há alturas em que chega mesmo a atrapalhar a jogabilidade, quando estamos concentrados a tentar nos desviar de vários golpes.

O segundo e principal problema em termos de performance é os tempos de loading. De cada vez que morremos, cada vez que viajamos de uma área para a outra, e de cada vez que iniciamos o jogo somos presenteados com um loading de cerca de 30-40 segundos, que chega a ser insuportável.

Felizmente, a produtora está a trabalhar numa actualização que chega ainda este mês (Abril) para reduzir estes tempos de carregamento.

A ambientação é fenomenal
Mas em termos artísticos, Bloodborne é um autêntico requinte visual. Adoro o ambiente gótico/tenebroso que Hidetaka Miyazaki conseguiu criar, assim como a imaginação que foi necessária para criar todas as criaturas, peças de indumentária, zonas do cenário, atenção ao pormenor e tudo o mais presente no jogo.

A variedade de localizações e cenários é suficiente para que não nos aborreçamos de olhar para o mesmo estilo artístico de Yharnam, e há partes em que chega a ser mesmo assustador prosseguir em frente. Sobretudo de um ponto de vista psicológico, é um terror que mexe mais com os nossos sentimentos do que propriamente sustos jump scare (não quer dizer que não haja!).

Para quem não sabe, Miyazaki inspirou-se no romance Drácula para criar Bloodborne, e o setting final não podia ser melhor. Ambientação excelente.

Alguns monstros assustam só de os vermos
Se tiver que definir a jogabilidade de Bloodborne numa única palavra (sem ser "difícil"), optaria sem dúvida por "viciante". Para quem não está familiarizado com a série Souls, o início do jogo será extremamente complexo e desnorteado. Não farão ideia de para onde ir, o que fazer, como confrontar os inimigos, para que serve cada item e stat, etc.

É normal, estamos habituados a tutoriais, mapas, inimigos fáceis, jogabilidade linear, a papinha toda feita. Em Bloodborne somos literalmente abandonados num mundo aterrador com perigos ao virar de cada esquina e os produtores dizem-nos "agora desenrasca-te".

Este estilo poderá desencorajar grande parte dos jogadores, mas aqueles que derem uma oportunidade e persistirem descobrirão que Bloodborne também sabe retribuir os audazes e o sentimento de  recompensa após uma luta dificílima contra um boss é um dos pontos mais altos de entretenimento que esta indústria pode oferecer.

O Hunter's Dream, o vosso "porto seguro" onde podem viajar, comprar itens e evoluir
Sim, vão morrer imensas vezes. Algumas delas por um niquinho de vida, deixando-vos incrivelmente frustrados. E vão querer desistir, mudar de jogo, ir ver um guia à net, etc. Mas, ao mesmo tempo, algo chama de volta ao mundo de Yharnam, e é essa vontade de regressar ao jogo que acho incrivelmente fascinante em Bloodborne.

E depois de ganharem a "manha" do jogo, as coisa tornam-se relativamente mais fáceis. Começam a perceber que afinal o mundo é mais linear do que parece: os caminhos secundários normalmente acabam em portões trancados ou tesouros e ficamos a saber que o caminho a seguir é pelo outro lado.

Começamos também a conhecer os inimigos do jogo, os seus comportamentos e como os enfrentar. Ao subirmos de nível e adquirirmos novas armas, sentimo-nos mais confiantes para explorar novas zonas, revisitar locais em que anteriormente tínhamos morrido, e começamos cada vez mais a sentir-nos o verdadeiro badass daquele mundo.

Um dos pontos que tenho um pouco a criticar é a dependência da arma que escolhemos inicialmente. Grande parte de vocês vai escolher uma de três armas ao início e continuar com ela até ao final do jogo, porque simplesmente não há grande incentivo para trocar.

Algumas imagens do início do jogo que recolhi enquanto jogava (sem spoilers)

Há medida que começamos a evoluir a nossa arma, todas as outras que apanhamos têm stats mais baixos que a nossa, o que desincentiva a troca. Claro que há armas com bastante mais scaling nos atributos e que, após devidamente evoluídas, são muito mais fortes.

Contudo, para um jogador que só se quer focar em passar uma vez a campanha, evoluir apenas a sua arma inicial torna-se tentador. Não digo que não haja variedade (em relação aos outros jogos da série Souls, é muito menor), apenas não há um grande incentivo.

Outro ponto caricato são as ragdolls, ou seja, a (falta de) física dos corpos jazidos no chão que são arrastados como bonecas quando passamos por eles. Este é um "problema" que já existia na série mas foi corrigido em Dark Souls 2. Contudo, a From Software voltou a incluí-lo em Bloodborne e há até quem diga que foi propositado porque alguns jogadores achavam piada a este efeito. Pessoalmente, não me incomoda.

Cuidado com os grandalhões, na maioria das vezes o tamanho importa
Embora, como tenha referido anteriormente, a jogabilidade seja incrivelmente viciante e bem conseguida (as hitboxes são excelentes, como já é o caso da série Souls), devo confessar que existem alguns problemas de câmera. Por vezes fica atrás de paredes, ou mexe muito rapidamente, e perdemos imensa concentração. Sobretudo num jogo em que o timing é essencial e faz a diferença entre a vida e a morte.
Como não ficar apaixonado por esta arte?

Mas o mais irritante ainda é quando, só porque nos afastamos um bocadinho de um inimigo, perdemos o foco da câmera e consequentemente a visão do inimigo. Já morri algumas vezes por causa disto, e é incrivelmente irritante.

Fora isso, apenas tenho a desejar-vos boa sorte para tentarem explicar a um amigo vosso por onde ele tem de seguir. O level design é incrivelmente difícil de explicar, pelo que sem ajuda visual é praticamente impossível explicar onde está um item, boss, por onde seguir, etc. Isto não é uma crítica, atenção, só uma observação.

A última crítica negativa que tenho a fazer é o tempo que demoramos a viajar de local para local. Neste jogo, as poções de vida não voltam quando acendemos uma lanterna, como na série Souls. O que significa que se morrerem para um boss, por exemplo, e tiverem usado todas as poções, vão ter de voltar a farmar mais matando inimigos.

Ou seja, ter que matar inimigos para obtermos poções e voltar a enfrentar um boss já é chato, mais chato ainda se torna quando temos um minuto e meio de loadings porque temos que passar por duas etapas para viajar entre localizações (uma para regressar ao Hunter's Dream, outra para escolher o local para onde se pretende ir).

A distinção entre trajes é mais estética do que propriamente estatística
Em termos sonoros, a From Software fez um excelente trabalho mais uma vez. Aqueles que não estão familiarizados vão estranhar a completa ausência de música durante a vossa viagem pelo mundo, mas vão perceber que isso apenas contribui para uma maior imersão e tenebrosidade. O barulho apenas dos nossos passos, um grito de um monstro no distante, é a imersão perfeita para este tipo de jogo.

Mas é quando enfrentamos um boss que a trilha sonora verdadeiramente brilha. As músicas são épicas e distintas para cada um dos monstros, o que torna os nossos combates verdadeiramente empolgantes e marcantes.

Destaque ainda também para o excelente trabalho de vozes, aliás como já é costume da From Software.

Alguns dos monstros são terrivelmente asquerosos
É difícil explicar Bloodborne em termos de longevidade pois vai variar imenso de pessoa para pessoa e do seu estilo de jogar. Em média, o jogo leva cerca de 30 horas para completar, mas isto vai depender imenso se apenas se focam nos caminhos principais, ou se também querem enfrentar os bosses secundários (que são imensos, mais que os principais), fazer algumas quests secretas, apanhar itens, farmar etc.

Depois de terminar o jogo, têm ainda o NewGame+, que vos permite jogar de novo a campanha com os itens e stats que já têm mas com dificuldade dos inimigos acrescida. Atenção que alguns de vocês irão achar o NG+ aborrecido, visto que o loot na segunda vez que jogam não muda e não há grandes incentivos a repetir. Contudo, os fãs certamente irão adorar e querer repetir para completar tudo.

Existem ainda as extremamente bem conseguidas Chalice Dungeons, que vos permite enfrentarem (sozinhos ou com amigos) dungeons geradas aleatoriamente (também existem as permanentes) onde encontrarão alguns dos monstros mais difíceis do jogo. Lá para o final, a dificuldade escala imenso e precisarão de um personagem muito forte. Em compensação, existe loot que só nas Chalice é que encontrarão e muito bom.

A minha única crítica negativa neste aspecto vai para a confusão inicial até perceberem como funciona o sistema das Chalice Dungeons. É preciso itens, fazer um sacrifício, desbloquear coisas, um monte de nuances que, devido ao ausência de qualquer explicação prévia, torna este sistema desnecessariamente confuso.

Clima tenebroso e arrepiante...
Por fim, gostaria ainda de mencionar a componente cooperativa e competitiva do jogo. Usando o auxílio de dois sinos que encontramos ao longo do jogo (um para chamar por um amigo, outro para entrar), conseguimos jogar com outros jogadores, contudo demora imenso tempo para encontrar alguém para entrar no nosso mundo. O mesmo para se essa pessoa for um dos nossos amigos e estiver a usar a password pré-definida para só ele conseguir entrar.

De qualquer das formas, é bastante divertido jogar com companheiros e derrrotar bosses em conjunto. Torna o jogo imensamente mais fácil. Invadir o mundo de outros jogadores também é bastante divertido, contudo só o recomendo fazer quando estiverem lá para nível 90 por duas razões: primeiro porque convém ter um grande conhecimento do jogo e ser forte para ter boa probabilidade de ganhar o duelo; segundo para não estragar muito a experiência dos novatos que se encontram perdidos e assustados por Yharnam.

Quando forem invadidos o vosso coração vai a mil!


Em termos técnicos não são dos gráficos mais bonitos que já vi na PS4, e mesmo assim existem algumas quebras de frame rate chatas. Em termos de arte conceptual e ambientação, no entanto, é um autêntico luxo visual, com uma ambientação soberba e uma atenção ao pormenor de louvar. Infelizmente, os tempos de loading são ridiculamente longos.



A fórmula da série Souls por si só já é fenomenal, e a jogabilidade de Bloodborne apresenta-se exímia mais uma vez. Incrivelmente viciante, desafiante, recompensadora, frustrante, exigente, é um mix de emoções que culminam numa verdadeira obra-prima. Quem é fã certamente irá gostar e quem não conhece deve claramente experimentar.



Trabalho sonoro de louvar, tanto a nível de banda sonora como trabalho de vozes. As músicas épicas criadas para cada boss acompanham muito bom os nossos confrontos com as bestas. Só não percebo porque não houve desta vez dobragem para português de Portugal...



Largas dezenas de horas para a primeira playthrough (consoante a vossa habilidade e exploração pelo mundo), que deixarão aqueles que gostaram a querer certamente uma segunda rodada, nem que seja para enfrentar todos os bosses secundários, e evoluir mais a personagem e descobrir os segredos/quests/NPC's. As Chalice Dungeons acrescentam um valor imenso a um título, que por si só, já entretém imenso.



Sistema de pontuação
Bloodborne é daquelas obras-primas de excelência com que raramente esta indústria nos brinda. À medida que vamos jogando, queremos descobrir mais e mais sobre este fascinante mundo de Yharnam e as horas passam a correr sem darmos por isso. Um jogo completamente obrigatório para todos os possuidores de uma PS4 e um system seller que deixará os jogadores da concorrência com inveja. Sem dúvida, a grande pérola da Sony desta geração e grande concorrente a Jogo do Ano.




0 comentários:

Enviar um comentário

Mensagens Recentes Mensagens Antigas Página Inicial