Need for Speed - Análise



ANÁLISES





















Fazer um reboot a uma série que conta já com mais de 20 anos é um passo audacioso mas arriscado. Após Need for Speed: Rivals, de 2013, a EA decidiu reiniciar por completo a franquia e tentar voltar a cativar os fãs antigos ao mesmo tempo que atrai novos. O resultado? Podia estar melhor.

Veredicto

A série Need for Speed é, talvez, a mais antiga e conhecida franquia de jogos de corrida. Lembro-me de jogar o velhinho Need for Speed Porsche 2000 no PC com um volante e achar fantástico.

Os últimos jogos da série têm sido um alto e baixo entre bom, mau e razoável. A EA decidiu desta vez dar dois anos anos de intervalo entre um novo jogo e fazer um reboot por completo, o que é um passo ousado.

Reinícios de série não é algo novo: a Square Enix fê-lo exemplarmente com o Tomb Raider de 2013 mas também temos casos menos bem conseguidos, como o Medal of Honor de 2010 que eventualmente terminou no encerramento da série dois anos depois com o jogo seguinte.


As expectativas eram bem elevadas para este Need for Speed. Era prometida uma espécie de "cria a tua própria história", o que dava a entender que haveriam diferentes enredos e o jogador poderia tomar decisões o que, possivelmente, culminaria em finais diferentes.

Infelizmente, parece ter havido um problema de interpretação. O que o jogador pode escolher é a ordem em que completa cada missão, mas o final e o desenrolar dos acontecimentos são o mesmo para todos.


A história é bem fraquinha. O live acting ainda é suportável, se ignorarmos os momentos embaraçosos criados pelo facto de o nosso personagem não falar, mas o enredo e guião é bem simplório.

Somos um racer da street, que chama a atenção dum elemento de um grupo/crew/gang ou como os quiserem chamar. Esse elemento, o Spike, apresenta-nos ao seu grupo, que é composto por mais a mecânica Amy, o especialista em drifts Manu, a atraente Robyn e o aparente líder do grupo Travis.

Cada um destes elementos vai-nos passando "missões", que basicamente consistem em corridas diferentes consoante o personagem: uma missão do Manu será uma disputa de drifts, enquanto que uma missão com o Spike será uma corrida, por exemplo.


“O live acting ainda é suportável, se ignorarmos os momentos embaraçosos criados pelo facto de o nosso personagem não falar, mas o enredo e guião é bem simplório.”


Estes elementos do grupo vão-nos telefonando constantemente (até mesmo durante corridas, por mais péssimo que o timing pareça) para nos darem novas missões. E a progressão na história é assim feita, missão atrás de missão, corrida atrás de corrida. E com uma cutscene ali pelo meio de vez em quando.

Visto que podemos fazer as missões pela ordem que decidirmos, alternando entre membros do grupo, há inconsistências. Por exemplo, o Manu ligou-me uma vez a dizer que estava a ser parado pela polícia e ia ser conduzido à esquadra, na cutscene a seguir estava no café connosco, e a seguir ligou-me outra vez a dizer que ainda estava na esquadra.


Tudo se resume a corridas neste jogo. Visto que podemos fazer fast travel entre cada missão, se assim quiserem podem passar o jogo inteiro só a fazer corridas. Ao todo são 70 e tal missões, o que equivale a uma duração de cerca de 12 horas se andarem a usar o fast travel.

Infelizmente, o jogo requer uma ligação online constante, o que significa que se por algum motivo a vossa ligação cair (seja por culpa do vosso router ou dos servidores da EA), beijinhos e abraços. Se estivessem no meio de uma corrida, vão ter de a repetir. Se estivessem a meio de uma cutscene, perderam-na para sempre visto que o jogo assume que já a viram.


Ao todo são 70 e tal missões, o que equivale a uma duração de cerca de 12 horas se andarem a usar o fast travel.


E, para um jogo que é online always, o número de jogadores que encontrei pelo mapa é ridiculamente baixo. Não sei como está o título em termos de vendas mas, sem exagero, deve haver uns três ou quatro jogadores espalhados pelo mapa todo de cada vez que abro o mapa.

O jogo devia ter a possibilidade de poder ser jogado offline, para quem só quisesse jogar a campanha e fazer umas corridas e desafios contra os bots, e quem quisesse jogar com amigos e explorar o mapa com mais pessoal ligava o online.


A condução, como já é tradicional na série, é bem arcade. O que significa que as colisões são puramente estéticas, conduzir e driftar é fácil e pouco realista em termos físicos, não há transmissão manual, não há vista do cockpit, enfim, dá para ter a ideia que é bem diferente de um simulador.


Isso não é necessariamente mau. Need for Speed é um jogo que certamente agradará a muito mais gente, pela sua jogabilidade fácil de "pegar e começar a jogar", do que um simulador que é mais voltado para uma minoria que gosta mesmo da experiência de conduzir um carro real.

A sensação de velocidade está muito boa, não fosse esse o título do jogo, e requer tempos de reacção rápidos para evitarmos certas colisões com carros na estrada.


Apesar de ser um jogo que dá certa liberdade no estilo de condução do jogador (podemos personalizar o nosso carro consoante queremos mais foco no drifting ou grip) há um grande ênfase no drift. Quem não gostar de driftar, não vai gostar de cerca de metade das missões deste jogo. E nas outras restantes vai estar em séria desvantagem, porque todos os outros condutores da IA vão estar a driftar e fazer curvas a mais velocidades que tu.


Quem não gostar de driftar, não vai gostar de cerca de metade das missões deste jogo.


E, já que falamos em IA, deixo já aqui o aviso: a IA é terrível em certas corridas. Ela choca propositadamente connosco mesmo quando está na nossa equipa!

Vou dar um exemplo: há um grupo de missões em que temos de driftar em conjunto com outros membros da crew, mas temos que driftar juntos ou não ganharemos nenhum ponto por cada drift. Neste estilo de corridas, a IA simplesmente não espera! Ela acelera por ali adiante e, assim que perderem o vosso parceiro, preparem-se para ficar com zero pontos até ao final da corrida.


A IA é terrível em certas corridas. Ela choca propositadamente connosco mesmo quando está na nossa equipa!


Outro exemplo da IA estúpida é em missões em que temos de bater um time trial com o Spike. A presença dele na corrida já é questionável, porque não contribui em nada para o tempo do time trial, mas o pior é quando ele se põe a atirar o carro contra a gente! Somos da mesma equipa Spike, a missão é em conjunto!


Felizmente, o nível de customização está bastante bom. Podem personalizar gratuitamente vários aspectos técnicos do carro, como pintura e adesivos, e podem ainda adquirir partes para o veículo (estéticas ou de performance) com o dinheiro que fazem nas missões.

Há um total de 51 veículos disponíveis, e em cerca de 5 horas de jogo tinha dinheiro para comprar o mais caro, o Ferrari F40. Optei por comprar o segundo mais caro, o Lamborghini Aventador 2014 de 190.000$, por ser mais a minha onda.


Há um total de 51 veículos disponíveis, e em cerca de 5 horas de jogo tinha dinheiro para comprar o mais caro, o Ferrari F40.


A performance deste "Lambo" é simplesmente absurda, com uma aceleração excepcional e uma velocidade máxima tão grande que as colisões são quase impossíveis de desviar.

Um dos lados negativos é que só podem ter até 5 carros na vossa garagem, se quiserem comprar outro com a garagem cheia terão de vender um dos que já têm.


A polícia não está em tanta força como estava em Most Wanted, por exemplo, mas faz-se sentir e consegue atrapalhar certas corridas. É muito fácil escapar a ela, sobretudo nos níveis mais baixos de "procurado". Este nível só é aumentado se fizermos as missões de escapar à polícia, que fazem com que a polícia passe a conseguir usar mais recursos para nos perseguir.

Em relação ao drifting em si, é um pouco esquisito de aprender ao início, de dominar aquele sweet point. Depois de nos habituarmos (e se ligarmos as assistências ajuda muito), torna-se intuitivo driftar a alta velocidade.


Preparem-se para se sentirem frustrados se houver algum chamamento do mundo real que vos faça ter que interromper e recomeçar a corrida.


A dificuldade apresenta um bom desafio, mas com alguns picos de dificuldade desnecessários. Certas missões que dizem ser de dificuldade "Média" são um pesadelo (sobretudo devido à terrível IA que nos prejudica), enquanto que algumas missões na categoria "Difícil" são bastante fáceis.

E, como o jogo não dá para ser pausado em nenhum momento (nem mesmo quando abrem o mapa), preparem-se para se sentirem frustrados se houver algum chamamento do mundo real que vos faça ter que interromper e recomeçar a corrida.

No geral, Need for Speed pode ser considerado um jogo moderadamente repetitivo, visto que tudo se resume a corridas, drifts e time trials. Os fãs da série e os que gostarem do género vão ter sempre diversão, mas os restantes vão começar a sentir que já viram tudo após algumas horas.


Em termos gráficos, consideraria Need for Speed um "pau de dois bicos". Por um lado, o motor Frostbite ostenta bem a beleza do jogo, sobretudo com efeitos da chuva no carro e piso molhado.

Por outro lado, isto é feito à custa de uma framerate fixa a 30 FPS, o que é mau para um jogo de corridas. Talvez se trate de um problema de optimização, visto que já vi jogos mais bonitos a framerates mais elevadas, mas também temos que considerar que se trata de um jogo semi-mundo aberto com bastantes efeitos de iluminação, partículas, objectos e sem loadings quando viajamos pelo mapa (só há loadings ao iniciar missões, cutscenes e o jogo em si).


O motor Frostbite ostenta bem a beleza do jogo, sobretudo com efeitos da chuva no carro e piso molhado.


É discutível se seria preferível baixar um pouco a qualidade gráfica em detrimento da maior fluidez que os 60 FPS oferecem, mas ao mesmo tempo, tratando-se de um jogo arcade, provavelmente muita gente não se importará.

Resta-me ainda dizer que o jogo decorre todo numa noite que não tem fim, por isso não esperem alguma vez ver a luz do sol enquanto jogam. A algumas pessoas, como eu, poderá fazer um bocadinho de confusão estar sempre noite. Um ciclo diário seria bastante positivo aqui.


Por fim, em termos sonoros, Need for Speed apresenta-se dentro da média. Os barulhos dos motores dos carros e ambientação são o suficiente para nos entreter e nos deixar empolgados enquanto jogo de corrida, mas não são tão distinguíveis como num simulador.

A banda sonora resume-se a drum and bass durante as corridas, para empolgar o jogador (e resulta, embora por vezes seja um pouco repetitivo), e música ligeiramente mais calma e baixa enquanto navegamos pela cidade.




O motor Frostbite proporciona efeitos climatéricos e visuais bastante bonitos, mas a custo de uma framerate fixa a 30 FPS. A cidade em si, inspirada em Los Angeles, está bonita embora acabemos por revisitar os mesmos locais várias vezes. Os únicos loadings existentes encontram-se ao iniciar missões e cutscenes, e ainda um loading grande quando se inicia o jogo.



Puramente arcade, do estilo "pegar e jogar". Não envolve muita técnica, mas ao mesmo tempo demora até conseguirmos dominar plenamente a mecânica de drifting que oferece uma vantagem enorme nas corridas. O nível de customização está bom, mas infelizmente só podemos ter até 5 carros na garagem, num total de 51 carros à venda. A Inteligência Artificial simplesmente não percebe os objectivos da corrida, e a polícia, embora presente, é fácil de dispersar.
A dificuldade apresenta um bom desafio, mas por vezes há picos frustrantes.



Drum and bass forte durante as corridas e um pouco mais calmo fora delas. De resto, o som dos motores e ambientação são o suficiente para um jogo arcade, mas não são tão distinguíveis e audíveis como num simulador.
O trabalho dos actores no live acting é decente dentro das limitações que a história oferece.



Cerca de 12 horas de campanha, repartida por 70 e tal missões de sobretudo corridas e drifts. A repetitividade começa-se a fazer sentir ao fim de algumas horas, mas os fãs do género continuarão a ter diversão.
Angariar 200.000$ para comprar o carro mais caro do jogo não é especialmente difícil: consegui-o em cerca de 5 horas.
O multiplayer praticamente só será útil se tiverem amigos com quem jogar, visto que a cidade está quase vazia de jogadores.



Sistema de pontuação
A Ghost Games e a EA tiveram coragem para arriscar um reboot a uma das franquias de jogos de corrida mais populares e antigas. Há aqui diversão garantida e viciante para os fãs do género arcade e que se identifiquem com o estilo "pegar, correr e driftar", mas os mais exigentes vão ficar desiludidos com a terrível I.A. em certas corridas, a repetitividade das mesmas e o número baixo de carros.



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